JESUS, O MAIOR PSICÓLOGO QUE JÁ EXISTIU CAPÍTULO 2

Entendendo as pessoas: elas são boas ou más?
Jesus disse: "Descia um homem de Jerusalém a Jericó. Pelo caminho caiu em poder de ladrões que, depois de o despojarem e espancarem, se foram, deixando-o semimorto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote. Vendo-o, passou ao largo. Do mesmo modo, um levita, passando por aquele lugar, também o viu e seguiu adiante. Mas um samaritano, que estava de viagem, chegou ao seu lado e, vendo-o, sentiu compaixão. Aproximou-se, tratou-lhe as feridas, derramando azeite e vinho. Fê-lo subir em sua montaria, conduziu-o à hospedaria e cuidou dele. Pela manhã, tomou duas moedas de prata, deu-as ao hospedeiro e disse-lhe: 'Cuida dele e o que gastares a mais na volta te pagarei.” Lucas 10:30-35 As pessoas são fundamentalmente boas ou más? Quase todos nós chegamos a uma dessas duas conclusões a respeito da natureza humana. Mas, se examinarmos como Jesus falava sobre as pessoas, parece que ele não chegou a nenhuma conclusão. Alguns de nós somos como o sacerdote e o levita da parábola, outros como o samaritano, outros como os ladrões e outros ainda como o homem que foi espancado e deixado meio-morto. Mas o que levou o samaritano a ter aquele comportamento? Foi o fato de ele ser essencialmente uma boa pessoa? Jesus repetidamente mostrou que o aspecto essencial da natureza humana é a nossa necessidade de ter um relacionamento amoroso com Deus e com os outros. Por isso uma pessoa se define pelo relacionamento que estabelece com outras pessoas. O samaritano era "bom" porque não desprezou o homem agredido e parou para estabelecer um relacionamento com ele. Do ponto de vista psicológico, encarar as pessoas simplesmente como boas ou más é muito simplista. Talvez seja mais fácil pensar assim porque, ao rotular os outros, sabemos em quem confiar e quem evitar. Mas a verdade é que sempre existem possíveis "samaritanos" e "ladrões" entre nós, e cada um de nós tem aspectos de ladrão, de sacerdote e de samaritano. Aqueles que reconhecem e valorizam a sua necessidade básica de se relacionar amorosamente com os outros tendem a ser boas pessoas e a ter um bom comportamento. Eles precisam dos outros, de modo que não desejam feri-los. As pessoas que violam sua natureza essencial de viver um bom relacionamento com os outros se comportam como más.1 A parábola do bom samaritano fala de pessoas boas e más. Jesus explica a diferença entre os dois tipos em função do relacionamento que estabeleceram com o homem ferido. Jesus não fala que eram boas ou más essencialmente. Ele conhecia profundamente a natureza humana e por isso pode nos ajudar hoje a compreender o comportamento de todas as pessoas que conhecemos, inclusive o nosso. JESUS CONSIDERAVA AS PESSOAS ESSENCIALMENTE MÁS? "Descia um homem de Jerusalém a Jericó. Pelo caminho caiu em poder de ladrões.” (Lucas 10:30) Jesus estava familiarizado com as escrituras judaicas que falavam da profunda decepção de Deus com a raça humana e de como ele destruiu o planeta com um grande dilúvio.2 Se Jesus concluiu, a partir dessa história, que somos fundamentalmente maus, então nossa natureza é ser como os ladrões da parábola do bom samaritano. Nós nos apossaríamos do que pertence aos outros e não os respeitaríamos, porque o importante neste mundo seria a sobrevivência do mais forte e faria parte da nossa natureza cuidar primeiro de nós mesmos, ainda que em prejuízo dos outros. A partir dessa perspectiva, sem alguma forma de religião ou de freio, todos nos mostraríamos nocivos e destrutivos. Martin veio fazer terapia porque sua mulher disse que pediria o divórcio se ele não procurasse ajuda profissional. Ela havia descoberto não apenas que ele estava tendo um caso com outra mulher, como também que o problema dele com as drogas era muito mais grave do que ele deixara transparecer. Martin era freqüentemente desonesto com a mulher, e ela estava chegando à conclusão de que nem mesmo conhecia o homem com quem tinha se casado. Ele estava envolvido cm uma série de atividades ilegais que escondera da esposa e não queria que um divórcio complicado o deixasse exposto. Martin às vezes ficava ansioso, com medo de ser apanhado por causa das suas más ações, mas nunca se sentia culpado por praticá-las. Até onde eu conseguia perceber, Martin parecia ser uma pessoa genuinamente má, mesmo que ele não pensasse dessa maneira. Martin é o ladrão da parábola do bom samaritano. Ele rouba dos outros e depois dissipa o produto do seu roubo, o que o leva a roubar de novo. Existem pessoas más na vida que violam os outros e os deixam debilitados e destruídos. A tragédia é que cada vez que Martin comete um abuso contra alguém, ele fere a si mesmo, o que faz com que ele queira aproveitar-se novamente de alguém. Nua falta de compaixão pelos outros criou um muro ao redor do seu coração que o afasta da sua condição humana. Martin está preso em um ciclo vicioso de abuso contra as outras pessoas. É justamente por não se dar conta da própria maldade que ele continua a agir maldosamente. Jesus sabia que de nada adianta colocar os ladrões diante da própria imoralidade. Eles geralmente nos dizem o que queremos ouvir. Algumas pessoas como Martin são capazes de mudar, mas só em circunstâncias extremas. Não sei o que teria acontecido se Martin tivesse permanecido na terapia e eu tivesse sido capaz de desenvolver com ele um relacionamento significativo o bastante para que ele fizesse um exame honesto de si mesmo. Naquelas circunstâncias, ele continuou a ter um mau comportamento porque não considerava ninguém suficientemente importante para fazê-lo agir de outra maneira. A mulher de Martin de fato pediu o divórcio e não sei onde ele está hoje, mas não deve ser em um lugar muito bom. Na parábola do bom samaritano, o ladrão era definitivamente uma pessoa má, mas Jesus não se concentrou nele. Ele não estava interessado em definir a natureza humana como má, mas em nos oferecer um modelo de como sermos bons. Jesus ligava-se constantemente a pessoas que podiam ser consideradas "más" pelos outros, como a mulher adúltera, mas ele não os encarava dessa maneira. Ele via todas as pessoas como capazes de ser boas e nunca as discriminava. Jesus procurava sempre atrair as pessoas para um relacionamento com ele porque era isso o que as ajudava a se tornar melhores. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Roubar os outros furta a alma do ladrão. O PROBLEMA DE VER AS PESSOAS COMO MÁS "Por fora, pareceis justos aos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e perversidade.” Mateus 23:8 Joshua procurou a terapia porque seu casamento estava desmoronando. Joshua era um religioso devoto que desejava agir o mais corretamente possível. Se fazer terapia individual pudesse ajudar o seu casamento, ele certamente estaria disposto a tentar. O problema que Joshua e eu enfrentamos logo no início da terapia foi o fato de que ele acreditava que sua mulher era a causadora de todas as suas dificuldades. Joshua insistia em acusar a mulher, contando como ela o havia desapontado com seu egocentrismo, como ela deixara de se comportar a altura do que prometera nos votos matrimoniais e estava destruindo o casamento. Joshua se negava a admitir sua parcela de responsabilidade na crise conjugai e sempre encerrava sua auto-avaliação com declarações como: "Mas eu me sinto bem. Se uno fosse por causa dela, nem mesmo estaria aqui.” Joshua se via como uma pessoa espiritualizada que havia dedicado anos aos estudos teológicos, a cultivar a sua fé e a ceder parte do seu tempo para auxiliar o desenvolvimento espiritual dos outros. Ele estava firmemente convencido de que se as pessoas praticassem as disciplinas espirituais não teriam problemas emocionais. Estava certo de que os problemas da esposa provinham do fato de ela não ter fé. Joshua não conseguia entender os problemas psicológicos da mulher e nem de que forma ele contribuía para as dificuldades do casal. Ele acreditava que ceder a emoções humanas significava submeter-se nos desejos "da carne", que ele considerava fundamentalmente maus. Joshua queria ser uma pessoa espiritualizada capaz de superar as fraquezas humanas. Criticava muito a mulher por ela ser incapaz de fazer o mesmo. Tentei lhe mostrar que expressar as emoções não era sinal de fraqueza e sim uma demonstração de força. Mas esbarrava nas suas certezas. "Minha fé se baseia em fatos, não em sentimentos", ele me informava. "Colocar fatos e sentimentos no mesmo nível é uma violação da minha fé." Como resultado, ele continuou a encarar os sentimentos da mulher como uma manifestação doentia. Infelizmente, minha terapia com Joshua foi breve e mal sucedida. É sempre difícil ajudar as pessoas que buscam a terapia afirmando que são os outros que precisam de ajuda. No entanto, uma das grandes barreiras para o sucesso da terapia de Joshua era a sua convicção de que a natureza humana é essencialmente má e que as pessoas espiritualizadas deveriam separar-se dela. Havia uma discordância básica entre nós. Eu estava tentando fazer com que ele entrasse em contato com a sua condição humana, e ele se empenhava em se afastar dela o máximo possível. O problema de acreditar que as pessoas são fundamentalmente más é que essa crença faz com que tenhamos vergonha de ser humanos. Criamos então um ser idealizado para fingir que somos diferentes. Quem considera a natureza humana desprezível e má precisa descobrir uma maneira de se livrar da parte nociva e tornar-se um ser puramente espiritual que vive acima de tudo isso. O problema dos fariseus era acreditar que eles não eram como as outras pessoas. Eles se achavam mais espirituais do que humanos. Em outras palavras, acreditar que a humanidade é fundamentalmente má faz você querer se afastar dela o máximo possível e só se associar àqueles que defendem idênticas convicções religiosas. Pessoas assim desprezam, mesmo que de forma inconsciente, aqueles que deixam de alcançar o seu nível de espiritualidade. Na terminologia psicológica, essa persona que eles criam é chamada de falso eu. O termo religioso é fariseu. Na época em que Jesus contou a parábola do bom samaritano havia um forte preconceito racial entre judeus e samaritanos. Naquele tempo, os samaritanos eram considerados pessoas más, e os fariseus, os sacerdotes e os religiosos judeus eram tidos como bons. O fato de o próprio Jesus ser judeu dava ainda mais força à mensagem da parábola. Hoje, os termos foram invertidos. "Bom" e "samaritano" referem-se a qualidades positivas, e ser chamado de "fariseu" tem uma conotação certamente negativa. Com sua parábola, Jesus nos mostrou que as pessoas são boas ou más devido aos relacionamentos que estabelecem e não a algo que lhes é inerente desde que nasceram. A religião não nos tira da nossa condição humana, pelo contrário - a religião nos faz viver plenamente a condição humana. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Não podemos escapar do nosso eu, mas podemos encontrá-lo. JESUS VIA AS PESSOAS COMO ESSENCIALMENTE BOAS? "Amai os vossos inimigos." Lucas 6:27 A filosofia que afirma que as pessoas são essencialmente boas é chamada de humanismo. Devido ao amor de Jesus pelos outros e a sua preocupação com o bem-estar de todos, ele é freqüentemente apresentado como um dos grandes exemplos do humanista ideal. Jesus ensinava que devemos amar a todos, até mesmo nossos inimigos. É fácil perceber que Jesus poderia ser usado como um exemplo de alguém que acreditava na bondade essencial das pessoas. Carl Rogers é um famoso psicólogo conhecido por desenvolver uma teoria baseada na crença na bondade essencial da humanidade. Ele acreditava que todas as pessoas possuem dentro de si um "processo de auto-realização" que as fará saudáveis na presença das condições corretas. Quase todos os terapeutas conhecem a terapia rogeriana como um dos principais exemplos da psicologia humanista. Certo dia, enquanto o Dr. Rogers conversava com a mãe de uma criança problemática que ele estava tentando tratar, ele descobriu uma coisa muito importante. Depois de terminar a discussão sobre os problemas da criança, a mãe se levantou e foi em direção à porta. Lá chegando, hesitou, voltou-se para o Dr. Rogers e perguntou: "Ainda lemos alguns minutos. O senhor se importa se eu disser algumas coisas a meu respeito?" Rogers convidou-a para sentar e escutou atentamente o que a mulher tinha a dizer. Nas próprias palavras dele, "Naquele momento, a verdadeira terapia começou". Posteriormente, ele descobriu que existe dentro de cada pessoa o que acreditou ser um impulso inato em direção à totalidade, e este impulso é ativado quando a pessoa se sente acolhida e aceita incondicionalmente. Não sei se o Dr. Rogers em algum momento pensou nisso, mas existem algumas surpreendentes semelhanças entre o seu pensamento e o amor incondicional que Jesus ensinou séculos atrás. Jesus falava do amor divino, que era incondicional. Rogers dizia que a consideração positiva incondicional era essencial para o processo de cura. Jesus descreveu a humanidade como sendo a imagem de Deus, possuindo um valor inerente. Rogers observou um processo de auto-realização inerente em todas as pessoas e afirmou que a autenticidade só acontece quando somos coerentes com nós mesmos. Jesus disse muitas coisas que apóiam a crença humanista na bondade inerente das pessoas, mas não podemos parar aqui. Jesus também reconheceu os problemas associados a essa crença, e para saber quais são temos que prosseguir na leitura. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Os bons ouvintes fazem as pessoas serem melhores. O PROBLEMA DE VER AS PESSOAS COMO BOAS "Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros, os últimos." Mateus 20:16 Tyler é um jovem executivo promissor com um brilhante futuro. É inteligente, tem boa aparência e é ambicioso. Tyler se considera uma pessoa realizada por ser independente e competente em tudo o que faz. Ele define força como autoconfiança, até mesmo na presença de circunstâncias extremas. Tyler procurou a terapia com a namorada porque ela achava que a relação dos dois poderia se beneficiar com um aconselhamento. Ele não julgava precisar do tratamento, mas estava sempre aberto a aprender como poderia ser mais eficiente na vida. "Estamos aqui apenas para um pequeno ajuste" - ele me avisou. "Não estou interessado em um processo longo e arrastado para discutir o que sinto com relação à minha mãe ou qualquer coisa desse tipo." Tyler não gostava de olhar para trás porque se via sempre avançando, e discutir o passado lhe parecia inútil. Tyler encarava o relacionamento com a namorada como uma tentativa de formar uma parceria. Estava disposto a investir no relacionamento, mas somente se obtivesse um retorno aceitável do investimento. Não queria alguém que dependesse dele; desejava uma parceira cuja contribuição fosse igual à dele. —Os papéis tradicionais podem ter funcionado nas gerações passadas, mas é impossível vencer na vida hoje em dia se não estivermos dispostos a passar algum tempo sem ter filhos, com os dois trabalhando. Somos duas pessoas progressistas e é isso que dá certo conosco - insistia Tyler. Eu sabia que os casais que fazem esse tipo de opção conseguem ter uma vida financeiramente bem mais folgada do que as famílias em que somente um dos parceiros trabalha, mas perguntei-me se a realização financeira seria suficiente para satisfazer Tyler a longo prazo. —Então, você acha que vão querer filhos no futuro? - perguntei. —Talvez um dia - respondeu Tyler. - Mas estamos aproveitando bastante nossa liberdade no momento. A coisa à qual Tyler dava mais valor era a independência. Ele estava tentando descobrir como se unir a outra pessoa sem se sacrificar nem um pouco no processo. Só estava interessado no casamento se pudesse vê-lo como um esforço conjunto de duas pessoas, uma parceria experimental que poderia ser dissolvida se não lhe proporcionasse o benefício prometido. Embora não conseguisse perceber nem admitir, Tyler estava na verdade preso aos vínculos tradicionais que ele considerava tão inadequados. Tyler queria um relacionamento que fosse o exato oposto do de seus pais. Neste sentido, o relacionamento dos pais era o modelo que definia o dele. Por mais que detestasse pesquisar o passado, era exatamente isso o que ele precisava fazer para poder entender as suas decisões para o futuro. No decorrer do aconselhamento, Tyler foi percebendo que o seu desejo de agir de forma oposta à dos pais significava que ele estava desapontado com a maneira como tinha sido tratado na infância e na adolescência e queria que sua vida fosse diferente. Ele começou a reconhecer que não estava de modo nenhum livre do seu passado. Em vez de ser independente, Tyler descobriu que dependia tanto do seu passado e das outras pessoas que procurava até evitá-las, sem ter consciência de que estava fazendo isso. O relacionamento de Tyler com a namorada está indo agora de vento em popa. Eles passaram a se comunicar melhor porque estão mais conscientes de seus sentimentos, e as suas expectativas a respeito da relação mudaram. Suas metas financeiras ainda são bastante ambiciosas, mas não mais prioritárias. Tyler está começando a depender emocionalmente de alguém e está descobrindo as vantagens dessa dependência. Em vez de só pensar em si mesmo, ele procura formar uma unidade com a namorada, e isso o deixa feliz. O individualismo é a crença na autoconfiança e na independência. Aqueles que acreditam no individualismo enfatizam a realização e o sucesso pessoais sem precisar depender dos outros. Se qualquer coisa viola seus direitos individuais, eles se livram dela. Sentem que têm o direito de alcançar a excelência pessoal a qualquer custo. Os seres humanos na verdade não funcionam dessa maneira. Nós, seres humanos, precisamos fundamentalmente das outras pessoas para poder saber quem somos. Assim como necessitamos de espelhos que reflitam a nossa imagem física, que nos mostrem como parecemos fisicamente, precisamos que as outras pessoas nos retratem emocionalmente, que nos revelem como somos psicologicamente. A idéia de Jesus de que "os primeiros serão os últimos" é o oposto do individualismo. Embora ele reconhecesse o valor inerente de cada pessoa, as pessoas só eram consideradas boas como conseqüência do seu relacionamento com Deus e com os outros. Jesus nunca ensinou que poderíamos ser bons sozinhos. Para ele, não realizamos nosso pleno potencial por meio da competição e sim através da conexão. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: O indivíduo é uma parte do todo. AS PESSOAS NÃO SÃO BOAS NEM MÁS "Eu vos chamo de amigos." João 15:15 Com a parábola do bom samaritano, Jesus estava falando da natureza humana. Ele não estava dizendo que somos fundamentalmente maus como os ladrões ou automaticamente bons como o samaritano. Nossa natureza essencial, de acordo com Jesus, se manifesta na relação. Nossa necessidade básica é nos relacionarmos uns com os outros a fim de sermos completos. Freqüentemente usamos várias desculpas para negarmos a percepção de que estamos vitalmente ligados aos outros. Eles necessitam de nós e, o que é ainda mais assustador, nós precisamos deles. A área da minha vida em que tive mais dificuldade em aceitar essa idéia foi a do relacionamento com o meu pai. Raramente víamos as coisas do mesmo jeito e discutíamos com freqüência. Só consigo recordar poucas vezes na minha vida em que não me senti tenso ao lado dele. Nosso relacionamento foi assim até a sua morte. Quando recebi a notícia de que meu pai estava com câncer, fiquei chocado, em parte porque tinha a ilusão de que essas coisas só aconteciam com as outras pessoas e em parte porque não estava pronto para a sua morte. Eu sabia que o nosso relacionamento não era bom e não queria que ele saísse da minha vida sem que tivéssemos procurado nos aproximar. Embora não mantivéssemos muito contato desde que eu me tornara adulto, fiz planos para voar até Tulsa e passar o fim de semana com ele quando os médicos lhe deram alta do hospital e o mandaram para casa. Disseram que não podiam fazer mais nada por ele. Eu não sabia o que ia dizer, mas queria ter um tipo de conversa que não causasse conflito entre nós. Aquele iria ser um dos momentos mais importantes da minha vida. Nunca me esquecerei da minha última noite com ele. Eu estava sentado na beira da sua cama, buscando em vão palavras que expressassem como eu lamentava o nosso doloroso relacionamento. De um jeito que não era do seu feitio, ele me disse: —Mark, não temos conversado muito depois que você saiu de casa. Por que você não fala a respeito da sua vida hoje em dia? Sem pensar, deixei escapar: —Nossas conversas nunca foram fáceis. Calmamente, ele retrucou: —Bem, se abaixarmos a cabeça e rezarmos, você acha que poderemos conversar? Você conversa tão bem. Chorando, abaixei a cabeça e rezei junto com ele. Nas quatro horas seguintes tive a melhor conversa da minha vida com meu pai. Na verdade, acho que foi o único diálogo verdadeiro que tivemos. Descobri coisas a respeito da vida dele que eu nunca soubera e contei-lhe coisas a meu respeito. Pedi que me perdoasse por ter saído de casa tão zangado anos antes e viverei o resto da minha vida lembrando das últimas palavras que eu disse ao meu pai: "Eu te amo.” Uma das lições que aprendi naquele dia foi que não apenas eu, mas nós dois precisávamos curar nosso relacionamento. Ele entrou em coma no dia seguinte e não voltou a recuperar a consciência. Tinha resolvido seus problemas e estava pronto para partir. Compreendi que eu também tinha assuntos não resolvidos. De certa maneira, estava empacado e não conseguia levar a minha vida adiante por não ter resolvido meu relacionamento com ele. Era em meu benefício que eu precisava perdoá-lo. Somos profundamente influenciados pelos nossos relacionamentos com os outros. Precisamos deles para podermos ser saudáveis e completos. O fato de estarmos com raiva de uma pessoa não significa que cortamos o relacionamento com ela. A enorme distância física que eu colocara entre meu pai e eu não diminuiu nem um pouco o impacto do meu relacionamento com ele. Minha vida está melhor porque tive a oportunidade de fazer as pazes com meu pai antes de sua morte. Este fato me ajudou a reconhecer a importância de todos os meus relacionamentos, até mesmo dos mais difíceis, para tornar-me quem eu sou. Olhando para trás agora, consigo ver que nem eu nem meu pai éramos pessoas más no nosso relacionamento. Ambos estávamos contribuindo para os nossos problemas e nós dois tínhamos a responsabilidade de fazer alguma coisa a respeito da situação. Era somente a nossa mágoa que estava impedindo que fizéssemos as pazes. Exatamente como na parábola do bom samaritano, éramos como o homem espancado quando sentíamos que estávamos sendo feridos pelo outro, como os ladrões quando perpetuávamos a mágoa entre nós e como os levitas e os sacerdotes quando estávamos ocupados demais para nos dar ao trabalho de tentar melhorar as coisas. Graças a Deus conseguimos no final ser o bom samaritano quando paramos e fizemos um movimento para nos relacionarmos um com o outro. Jesus nos ensinou que, além de amar os outros, devemos tratar os mais próximos de nós como amigos. Isso muitas vezes é extremamente difícil. Embora Jesus se considerasse um líder, um profeta e até mesmo o Filho de Deus, quando ele disse aos seus seguidores: "Eu vos chamei de amigos", estava fazendo uma declaração a respeito da essência das pessoas. Não existe nada mais importante do que a nossa escolha deliberada e consciente de construir um relacionamento amoroso com aqueles que nos cercam, por mais difícil que isso seja. Este é um dos princípios que uso na terapia e que também tem me ajudado na minha vida pessoal. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Às vezes tratamos aqueles que amamos como nunca trataríamos nossos amigos. Devemos pedir perdão por isso. A IMAGEM DE DEUS NA TERRA "O Pai está em mim, e eu no Pai" João 10:38 Darren começou a fazer terapia quando estava no ensino médio e continuou a se tratar de um modo intermitente. Embora tenha se beneficiado de alguma maneira, também foi tratado com técnicas que considero ultrapassadas. Darren era muito tímido e reservado. Sua auto imagem era medíocre e acreditava que ninguém estava realmente interessado nele. Tinha poucos amigos e só conseguia manter um contato social nos bares depois que afastava as suas inibições com doses significativas de álcool. É claro que essa atitude dava origem a outros problemas. Em determinado momento, Darren topou com uma forma de terapia que fez com que ele se soltasse bastante. Disseram-lhe que fosse para uma sala repleta de outros pacientes e extravasasse quaisquer emoções que quisesse. Baseado no comportamento dos outros, Darren pôs-se a gritar e a se jogar no chão. De repente, foi capaz de expressar uma raiva violenta que reprimira a vida inteira. Ao contrário do que poderia esperar, Darren não foi rejeitado pelos seus sentimentos de raiva; na verdade, foi elogiado por ser capaz de expressá-los com tanta liberdade. Ele se sentiu livre. Darren mal conseguia acreditar que pudesse mostrar aos outros o que tinha de mais inaceitável e repulsivo, e mesmo assim ser aceito. É extremamente curativo quando, em vez de sermos rejeitados, somos aceitos ao expressar os sentimentos que censuramos. No entanto, os efeitos dessa experiência não duraram. Em algum nível mais profundo, Darren não conseguiu acreditar que os outros o estivessem verdadeiramente aceitando. Ele achou que estavam fingindo, como todas as pessoas de sua vida. Inconscientemente, imaginou que havia algo a seu respeito que elas rejeitariam. Assim, suas explosões de raiva começaram a aumentar progressivamente. Gritava com os outros, derrubava a mobília e desafiava zangado os terapeutas quanto estes tentavam colocar limites no seu comportamento. Darren foi finalmente convidado a retirar-se do grupo de terapia, o que o deixou muito magoado. Os terapeutas reconheceram sua necessidade de se expressar, mas não perceberam a importância do relacionamento deles com Darren quando ele se manifestava. O simples fato de expressarmos nossas emoções não é benéfico, mas ser acolhido e compreendido ao externá-las pode ajudar muito na cura. Quando Darren sentia que a expressão dos seus sentimentos era aceita pelos outros, a terapia era capaz de curar mágoas passadas. Mas quando ele se sentiu rejeitado por expressar a sua raiva, a terapia se tornou uma repetição de traumas passados. Como já disse antes: os psicólogos estão reconhecendo hoje em dia a importância essencial dos relacionamentos em nossa vida, e a nossa terapia precisa sempre considerar este fato. Jesus ensinou que não podemos viver sem um relacionamento com Deus e com os outros, assim como não somos capazes de existir sem o ar que respiramos. Tentar viver uma vida isolada significaria violar a nossa natureza. Reconhecer que dependemos fundamentalmente de alguém fora de nós é a única maneira de satisfazer a nossa natureza. Muitos psicólogos estão chegando à mesma conclusão. Estamos reconhecendo que as pessoas só podem ter um "eu" ao se relacionarem com os outros.4 Jesus sempre se viu em um constante relacionamento com Deus.5 Ele disse: "O Pai está em mim, e eu no Pai." Esta profunda conexão entre eles era um modelo de como ele queria que nos víssemos. Os seres humanos não podem viver isolados. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A imagem de Deus em nós é a nossa capacidade de nos relacionarmos. A INTERPRETAÇÃO ERRADA DO OBJETIVO DA VIDA DE JESUS "A princípio seus discípulos não compreenderam..." João 12:16 O domingo de Ramos é lembrado na igreja cristã como o início da semana mais importante da vida de Jesus. Nesse domingo ele foi para Jerusalém viver seus últimos dias na Terra. As pessoas que souberam que ele estava chegando enfileiraram-se nas ruas para saudá-lo, agitando folhas de palmeira como um símbolo de vitória para um poderoso dirigente, mais ou menos como fazemos quando papéis são jogados dos prédios para receber os heróis. Para surpresa de todos, Jesus chegou montado em um jumento. Em vez de chegar à cidade com grande pompa, ele se serviu de um humilde meio de transporte para cumprir uma antiga profecia. Ele queria deixar uma coisa bem clara: ele era alguém com quem qualquer um podia se relacionar. Até mesmo João, o amigo mais chegado de Jesus, escreveu mais tarde a respeito desse evento dizendo que "não tinha entendido". As pessoas, tanto naquela época quanto agora, têm a tendência de achar que, se Jesus tinha o poder de mudar o mundo, ele deveria ter planos drásticos para varrer a corrupção e o mal que permeava o planeta. Jesus, porém, parecia continuar a dizer às pessoas que elas precisavam se relacionar com Deus. Meu amigo Steve não se interessa por religião, especialmente pelo cristianismo. Para ele, Jesus era um rabino moralista que se exibia como se possuísse uma virtude superior, tentando fazer as pessoas se sentirem culpadas se não agissem da mesma maneira. Steve acredita que a religião traz à tona o que há de pior nas pessoas, aproveitando-se da culpa que elas sentem. Infelizmente, acho que muitas pessoas religiosas também pensam como Steve. Muitas são religiosas porque se sentem culpadas e têm esperança de que através das práticas religiosas podem ser salvas. Elas seguem rituais religiosos, fazem contribuições financeiras e tentam viver uma vida religiosa para não se sentirem mal com relação a si mesmas. A noção de que Jesus queria mostrar às pessoas que elas são más para que vivam de forma mais digna é uma interpretação errada das idéias de Jesus. Jesus criticava o comportamento de algumas pessoas, mas aquelas que ele mais censurava eram exatamente as religiosas. Raramente ele reprovava as pessoas comuns. Quando se deparava com alguém que estivesse se comportando mal, dizia para a pessoa "ir embora e não pecar mais", sem dar ênfase ao mau comportamento. O objetivo da vida de Jesus não era demonstrar que as pessoas eram más, mas fazer com que elas soubessem que precisavam relacionar-se com Deus e com os outros de forma amorosa. Ele acreditava que, se reconhecêssemos essa necessidade humana básica, não desejaríamos agir de modo nocivo. É fácil enganar-se ao interpretar o objetivo da vida de Jesus se encararmos sua missão como um dever moral, se acreditarmos que Jesus considerava que as pessoas eram fundamentalmente más e precisavam ser moralmente libertadas através de princípios religiosos. O objetivo da vida de Jesus não era fazer com que tivéssemos mais moralidade e sim nos tornar mais amorosos em nossas relações. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A boa moralidade se origina nos bons relacionamentos. VOLTANDO AO JARDIM DO ÉDEN "Eu vim para que elas tenham vida, e a tenham em abundância.” João 10:10 Há anos Michael não fala com o irmão, Tom. Todos na família estão a par da animosidade existente entre os dois, mas ninguém sabe o que fazer a respeito. Ambos são teimosos e cada um acha que foi profundamente ofendido pelo outro. Na última vez que a mulher de Michael tentou discutir a situação com ele, a conversa terminou com Michael gritando: "Não quero que o nome dele volte a ser mencionado nesta casa.” Na verdade, nem Michael nem Tom conseguem se lembrar de como surgiu a inimizade entre eles. No entanto, ambos são capazes de recordar numerosos incidentes que usam para manter ativo o ódio existente entre os dois. Michael sente raiva de Tom por este não ser o tipo de irmão mais velho de que ele precisava, e Tom também sente raiva de Michael por vê-lo tão ressentido. Cada um acha que o outro lhe deve satisfações e nenhum dos dois está interessado em fazer alguma coisa para melhorar a situação. O que nenhum dos dois percebe é que ambos precisam um do outro para serem completos. A guerra entre os irmãos produz feridas e sofrimentos nos dois. Apesar do que Freud achava originalmente, não é natural que membros de uma mesma família sejam agressivos uns com os outros. Esse tipo de animosidade é um sinal de que algo está errado. Michael precisa reconciliar-se com Tom em seu próprio benefício. Ele resiste à idéia de aproximar-se do irmão por achar que estaria "cedendo". O que ele não percebe é que está prejudicando a si mesmo por permitir que o desentendimento continue. A reconciliação cura as feridas da nossa alma. A amargura e a raiva de Michael em relação ao irmão afetam todos os seus relacionamentos. Jesus via o trabalho da sua vida como a reconciliação da humanidade com Deus. As Escrituras judaicas ensinavam que Adão e Eva haviam sido expulsos do Jardim do Éden por terem desobedecido a Deus. Do ponto de vista teológico, esse evento foi chamado de Queda, porque a humanidade caiu em desgraça em relação a Deus. A missão de Jesus era mostrar-nos o caminho de casa. Quando penso nessa "Queda" a partir de uma perspectiva psicológica, me pergunto: "De onde eles caíram?" A resposta que Jesus daria é a seguinte: "De um relacionamento com Deus." O que a humanidade perdeu no Jardim do Éden foi o relacionamento íntimo com Deus. Jesus viu a si mesmo como a ponte entre Deus e a humanidade. Essa foi a nossa redenção, o nosso relacionamento restaurado com Deus. Acredito que a vida seria melhor se pensássemos com mais freqüência que a nossa salvação consiste em restabelecer os relacionamentos rompidos. Quando um relacionamento se rompe, a maioria das pessoas se preocupa em descobrir quem está errado. Quando somos feridos, procuramos logo o culpado, querendo que pague por isso. Jesus, por outro lado, achava que as coisas poderiam ser reparadas a partir do que damos aos outros e não do que recebemos deles como forma de pagamento. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Nós nos salvamos restaurando os relacionamentos.

Entendendo as pessoas: elas são boas ou más?
Jesus disse: "Descia um homem de Jerusalém a Jericó. Pelo caminho caiu em poder de ladrões que, depois de o despojarem e espancarem, se foram, deixando-o semimorto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote. Vendo-o, passou ao largo. Do mesmo modo, um levita, passando por aquele lugar, também o viu e seguiu adiante. Mas um samaritano, que estava de viagem, chegou ao seu lado e, vendo-o, sentiu compaixão. Aproximou-se, tratou-lhe as feridas, derramando azeite e vinho. Fê-lo subir em sua montaria, conduziu-o à hospedaria e cuidou dele. Pela manhã, tomou duas moedas de prata, deu-as ao hospedeiro e disse-lhe: 'Cuida dele e o que gastares a mais na volta te pagarei.” Lucas 10:30-35 As pessoas são fundamentalmente boas ou más? Quase todos nós chegamos a uma dessas duas conclusões a respeito da natureza humana. Mas, se examinarmos como Jesus falava sobre as pessoas, parece que ele não chegou a nenhuma conclusão. Alguns de nós somos como o sacerdote e o levita da parábola, outros como o samaritano, outros como os ladrões e outros ainda como o homem que foi espancado e deixado meio-morto. Mas o que levou o samaritano a ter aquele comportamento? Foi o fato de ele ser essencialmente uma boa pessoa? Jesus repetidamente mostrou que o aspecto essencial da natureza humana é a nossa necessidade de ter um relacionamento amoroso com Deus e com os outros. Por isso uma pessoa se define pelo relacionamento que estabelece com outras pessoas. O samaritano era "bom" porque não desprezou o homem agredido e parou para estabelecer um relacionamento com ele. Do ponto de vista psicológico, encarar as pessoas simplesmente como boas ou más é muito simplista. Talvez seja mais fácil pensar assim porque, ao rotular os outros, sabemos em quem confiar e quem evitar. Mas a verdade é que sempre existem possíveis "samaritanos" e "ladrões" entre nós, e cada um de nós tem aspectos de ladrão, de sacerdote e de samaritano. Aqueles que reconhecem e valorizam a sua necessidade básica de se relacionar amorosamente com os outros tendem a ser boas pessoas e a ter um bom comportamento. Eles precisam dos outros, de modo que não desejam feri-los. As pessoas que violam sua natureza essencial de viver um bom relacionamento com os outros se comportam como más.1 A parábola do bom samaritano fala de pessoas boas e más. Jesus explica a diferença entre os dois tipos em função do relacionamento que estabeleceram com o homem ferido. Jesus não fala que eram boas ou más essencialmente. Ele conhecia profundamente a natureza humana e por isso pode nos ajudar hoje a compreender o comportamento de todas as pessoas que conhecemos, inclusive o nosso. JESUS CONSIDERAVA AS PESSOAS ESSENCIALMENTE MÁS? "Descia um homem de Jerusalém a Jericó. Pelo caminho caiu em poder de ladrões.” (Lucas 10:30) Jesus estava familiarizado com as escrituras judaicas que falavam da profunda decepção de Deus com a raça humana e de como ele destruiu o planeta com um grande dilúvio.2 Se Jesus concluiu, a partir dessa história, que somos fundamentalmente maus, então nossa natureza é ser como os ladrões da parábola do bom samaritano. Nós nos apossaríamos do que pertence aos outros e não os respeitaríamos, porque o importante neste mundo seria a sobrevivência do mais forte e faria parte da nossa natureza cuidar primeiro de nós mesmos, ainda que em prejuízo dos outros. A partir dessa perspectiva, sem alguma forma de religião ou de freio, todos nos mostraríamos nocivos e destrutivos. Martin veio fazer terapia porque sua mulher disse que pediria o divórcio se ele não procurasse ajuda profissional. Ela havia descoberto não apenas que ele estava tendo um caso com outra mulher, como também que o problema dele com as drogas era muito mais grave do que ele deixara transparecer. Martin era freqüentemente desonesto com a mulher, e ela estava chegando à conclusão de que nem mesmo conhecia o homem com quem tinha se casado. Ele estava envolvido cm uma série de atividades ilegais que escondera da esposa e não queria que um divórcio complicado o deixasse exposto. Martin às vezes ficava ansioso, com medo de ser apanhado por causa das suas más ações, mas nunca se sentia culpado por praticá-las. Até onde eu conseguia perceber, Martin parecia ser uma pessoa genuinamente má, mesmo que ele não pensasse dessa maneira. Martin é o ladrão da parábola do bom samaritano. Ele rouba dos outros e depois dissipa o produto do seu roubo, o que o leva a roubar de novo. Existem pessoas más na vida que violam os outros e os deixam debilitados e destruídos. A tragédia é que cada vez que Martin comete um abuso contra alguém, ele fere a si mesmo, o que faz com que ele queira aproveitar-se novamente de alguém. Nua falta de compaixão pelos outros criou um muro ao redor do seu coração que o afasta da sua condição humana. Martin está preso em um ciclo vicioso de abuso contra as outras pessoas. É justamente por não se dar conta da própria maldade que ele continua a agir maldosamente. Jesus sabia que de nada adianta colocar os ladrões diante da própria imoralidade. Eles geralmente nos dizem o que queremos ouvir. Algumas pessoas como Martin são capazes de mudar, mas só em circunstâncias extremas. Não sei o que teria acontecido se Martin tivesse permanecido na terapia e eu tivesse sido capaz de desenvolver com ele um relacionamento significativo o bastante para que ele fizesse um exame honesto de si mesmo. Naquelas circunstâncias, ele continuou a ter um mau comportamento porque não considerava ninguém suficientemente importante para fazê-lo agir de outra maneira. A mulher de Martin de fato pediu o divórcio e não sei onde ele está hoje, mas não deve ser em um lugar muito bom. Na parábola do bom samaritano, o ladrão era definitivamente uma pessoa má, mas Jesus não se concentrou nele. Ele não estava interessado em definir a natureza humana como má, mas em nos oferecer um modelo de como sermos bons. Jesus ligava-se constantemente a pessoas que podiam ser consideradas "más" pelos outros, como a mulher adúltera, mas ele não os encarava dessa maneira. Ele via todas as pessoas como capazes de ser boas e nunca as discriminava. Jesus procurava sempre atrair as pessoas para um relacionamento com ele porque era isso o que as ajudava a se tornar melhores. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Roubar os outros furta a alma do ladrão. O PROBLEMA DE VER AS PESSOAS COMO MÁS "Por fora, pareceis justos aos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e perversidade.” Mateus 23:8 Joshua procurou a terapia porque seu casamento estava desmoronando. Joshua era um religioso devoto que desejava agir o mais corretamente possível. Se fazer terapia individual pudesse ajudar o seu casamento, ele certamente estaria disposto a tentar. O problema que Joshua e eu enfrentamos logo no início da terapia foi o fato de que ele acreditava que sua mulher era a causadora de todas as suas dificuldades. Joshua insistia em acusar a mulher, contando como ela o havia desapontado com seu egocentrismo, como ela deixara de se comportar a altura do que prometera nos votos matrimoniais e estava destruindo o casamento. Joshua se negava a admitir sua parcela de responsabilidade na crise conjugai e sempre encerrava sua auto-avaliação com declarações como: "Mas eu me sinto bem. Se uno fosse por causa dela, nem mesmo estaria aqui.” Joshua se via como uma pessoa espiritualizada que havia dedicado anos aos estudos teológicos, a cultivar a sua fé e a ceder parte do seu tempo para auxiliar o desenvolvimento espiritual dos outros. Ele estava firmemente convencido de que se as pessoas praticassem as disciplinas espirituais não teriam problemas emocionais. Estava certo de que os problemas da esposa provinham do fato de ela não ter fé. Joshua não conseguia entender os problemas psicológicos da mulher e nem de que forma ele contribuía para as dificuldades do casal. Ele acreditava que ceder a emoções humanas significava submeter-se nos desejos "da carne", que ele considerava fundamentalmente maus. Joshua queria ser uma pessoa espiritualizada capaz de superar as fraquezas humanas. Criticava muito a mulher por ela ser incapaz de fazer o mesmo. Tentei lhe mostrar que expressar as emoções não era sinal de fraqueza e sim uma demonstração de força. Mas esbarrava nas suas certezas. "Minha fé se baseia em fatos, não em sentimentos", ele me informava. "Colocar fatos e sentimentos no mesmo nível é uma violação da minha fé." Como resultado, ele continuou a encarar os sentimentos da mulher como uma manifestação doentia. Infelizmente, minha terapia com Joshua foi breve e mal sucedida. É sempre difícil ajudar as pessoas que buscam a terapia afirmando que são os outros que precisam de ajuda. No entanto, uma das grandes barreiras para o sucesso da terapia de Joshua era a sua convicção de que a natureza humana é essencialmente má e que as pessoas espiritualizadas deveriam separar-se dela. Havia uma discordância básica entre nós. Eu estava tentando fazer com que ele entrasse em contato com a sua condição humana, e ele se empenhava em se afastar dela o máximo possível. O problema de acreditar que as pessoas são fundamentalmente más é que essa crença faz com que tenhamos vergonha de ser humanos. Criamos então um ser idealizado para fingir que somos diferentes. Quem considera a natureza humana desprezível e má precisa descobrir uma maneira de se livrar da parte nociva e tornar-se um ser puramente espiritual que vive acima de tudo isso. O problema dos fariseus era acreditar que eles não eram como as outras pessoas. Eles se achavam mais espirituais do que humanos. Em outras palavras, acreditar que a humanidade é fundamentalmente má faz você querer se afastar dela o máximo possível e só se associar àqueles que defendem idênticas convicções religiosas. Pessoas assim desprezam, mesmo que de forma inconsciente, aqueles que deixam de alcançar o seu nível de espiritualidade. Na terminologia psicológica, essa persona que eles criam é chamada de falso eu. O termo religioso é fariseu. Na época em que Jesus contou a parábola do bom samaritano havia um forte preconceito racial entre judeus e samaritanos. Naquele tempo, os samaritanos eram considerados pessoas más, e os fariseus, os sacerdotes e os religiosos judeus eram tidos como bons. O fato de o próprio Jesus ser judeu dava ainda mais força à mensagem da parábola. Hoje, os termos foram invertidos. "Bom" e "samaritano" referem-se a qualidades positivas, e ser chamado de "fariseu" tem uma conotação certamente negativa. Com sua parábola, Jesus nos mostrou que as pessoas são boas ou más devido aos relacionamentos que estabelecem e não a algo que lhes é inerente desde que nasceram. A religião não nos tira da nossa condição humana, pelo contrário - a religião nos faz viver plenamente a condição humana. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Não podemos escapar do nosso eu, mas podemos encontrá-lo. JESUS VIA AS PESSOAS COMO ESSENCIALMENTE BOAS? "Amai os vossos inimigos." Lucas 6:27 A filosofia que afirma que as pessoas são essencialmente boas é chamada de humanismo. Devido ao amor de Jesus pelos outros e a sua preocupação com o bem-estar de todos, ele é freqüentemente apresentado como um dos grandes exemplos do humanista ideal. Jesus ensinava que devemos amar a todos, até mesmo nossos inimigos. É fácil perceber que Jesus poderia ser usado como um exemplo de alguém que acreditava na bondade essencial das pessoas. Carl Rogers é um famoso psicólogo conhecido por desenvolver uma teoria baseada na crença na bondade essencial da humanidade. Ele acreditava que todas as pessoas possuem dentro de si um "processo de auto-realização" que as fará saudáveis na presença das condições corretas. Quase todos os terapeutas conhecem a terapia rogeriana como um dos principais exemplos da psicologia humanista. Certo dia, enquanto o Dr. Rogers conversava com a mãe de uma criança problemática que ele estava tentando tratar, ele descobriu uma coisa muito importante. Depois de terminar a discussão sobre os problemas da criança, a mãe se levantou e foi em direção à porta. Lá chegando, hesitou, voltou-se para o Dr. Rogers e perguntou: "Ainda lemos alguns minutos. O senhor se importa se eu disser algumas coisas a meu respeito?" Rogers convidou-a para sentar e escutou atentamente o que a mulher tinha a dizer. Nas próprias palavras dele, "Naquele momento, a verdadeira terapia começou". Posteriormente, ele descobriu que existe dentro de cada pessoa o que acreditou ser um impulso inato em direção à totalidade, e este impulso é ativado quando a pessoa se sente acolhida e aceita incondicionalmente. Não sei se o Dr. Rogers em algum momento pensou nisso, mas existem algumas surpreendentes semelhanças entre o seu pensamento e o amor incondicional que Jesus ensinou séculos atrás. Jesus falava do amor divino, que era incondicional. Rogers dizia que a consideração positiva incondicional era essencial para o processo de cura. Jesus descreveu a humanidade como sendo a imagem de Deus, possuindo um valor inerente. Rogers observou um processo de auto-realização inerente em todas as pessoas e afirmou que a autenticidade só acontece quando somos coerentes com nós mesmos. Jesus disse muitas coisas que apóiam a crença humanista na bondade inerente das pessoas, mas não podemos parar aqui. Jesus também reconheceu os problemas associados a essa crença, e para saber quais são temos que prosseguir na leitura. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Os bons ouvintes fazem as pessoas serem melhores. O PROBLEMA DE VER AS PESSOAS COMO BOAS "Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros, os últimos." Mateus 20:16 Tyler é um jovem executivo promissor com um brilhante futuro. É inteligente, tem boa aparência e é ambicioso. Tyler se considera uma pessoa realizada por ser independente e competente em tudo o que faz. Ele define força como autoconfiança, até mesmo na presença de circunstâncias extremas. Tyler procurou a terapia com a namorada porque ela achava que a relação dos dois poderia se beneficiar com um aconselhamento. Ele não julgava precisar do tratamento, mas estava sempre aberto a aprender como poderia ser mais eficiente na vida. "Estamos aqui apenas para um pequeno ajuste" - ele me avisou. "Não estou interessado em um processo longo e arrastado para discutir o que sinto com relação à minha mãe ou qualquer coisa desse tipo." Tyler não gostava de olhar para trás porque se via sempre avançando, e discutir o passado lhe parecia inútil. Tyler encarava o relacionamento com a namorada como uma tentativa de formar uma parceria. Estava disposto a investir no relacionamento, mas somente se obtivesse um retorno aceitável do investimento. Não queria alguém que dependesse dele; desejava uma parceira cuja contribuição fosse igual à dele. —Os papéis tradicionais podem ter funcionado nas gerações passadas, mas é impossível vencer na vida hoje em dia se não estivermos dispostos a passar algum tempo sem ter filhos, com os dois trabalhando. Somos duas pessoas progressistas e é isso que dá certo conosco - insistia Tyler. Eu sabia que os casais que fazem esse tipo de opção conseguem ter uma vida financeiramente bem mais folgada do que as famílias em que somente um dos parceiros trabalha, mas perguntei-me se a realização financeira seria suficiente para satisfazer Tyler a longo prazo. —Então, você acha que vão querer filhos no futuro? - perguntei. —Talvez um dia - respondeu Tyler. - Mas estamos aproveitando bastante nossa liberdade no momento. A coisa à qual Tyler dava mais valor era a independência. Ele estava tentando descobrir como se unir a outra pessoa sem se sacrificar nem um pouco no processo. Só estava interessado no casamento se pudesse vê-lo como um esforço conjunto de duas pessoas, uma parceria experimental que poderia ser dissolvida se não lhe proporcionasse o benefício prometido. Embora não conseguisse perceber nem admitir, Tyler estava na verdade preso aos vínculos tradicionais que ele considerava tão inadequados. Tyler queria um relacionamento que fosse o exato oposto do de seus pais. Neste sentido, o relacionamento dos pais era o modelo que definia o dele. Por mais que detestasse pesquisar o passado, era exatamente isso o que ele precisava fazer para poder entender as suas decisões para o futuro. No decorrer do aconselhamento, Tyler foi percebendo que o seu desejo de agir de forma oposta à dos pais significava que ele estava desapontado com a maneira como tinha sido tratado na infância e na adolescência e queria que sua vida fosse diferente. Ele começou a reconhecer que não estava de modo nenhum livre do seu passado. Em vez de ser independente, Tyler descobriu que dependia tanto do seu passado e das outras pessoas que procurava até evitá-las, sem ter consciência de que estava fazendo isso. O relacionamento de Tyler com a namorada está indo agora de vento em popa. Eles passaram a se comunicar melhor porque estão mais conscientes de seus sentimentos, e as suas expectativas a respeito da relação mudaram. Suas metas financeiras ainda são bastante ambiciosas, mas não mais prioritárias. Tyler está começando a depender emocionalmente de alguém e está descobrindo as vantagens dessa dependência. Em vez de só pensar em si mesmo, ele procura formar uma unidade com a namorada, e isso o deixa feliz. O individualismo é a crença na autoconfiança e na independência. Aqueles que acreditam no individualismo enfatizam a realização e o sucesso pessoais sem precisar depender dos outros. Se qualquer coisa viola seus direitos individuais, eles se livram dela. Sentem que têm o direito de alcançar a excelência pessoal a qualquer custo. Os seres humanos na verdade não funcionam dessa maneira. Nós, seres humanos, precisamos fundamentalmente das outras pessoas para poder saber quem somos. Assim como necessitamos de espelhos que reflitam a nossa imagem física, que nos mostrem como parecemos fisicamente, precisamos que as outras pessoas nos retratem emocionalmente, que nos revelem como somos psicologicamente. A idéia de Jesus de que "os primeiros serão os últimos" é o oposto do individualismo. Embora ele reconhecesse o valor inerente de cada pessoa, as pessoas só eram consideradas boas como conseqüência do seu relacionamento com Deus e com os outros. Jesus nunca ensinou que poderíamos ser bons sozinhos. Para ele, não realizamos nosso pleno potencial por meio da competição e sim através da conexão. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: O indivíduo é uma parte do todo. AS PESSOAS NÃO SÃO BOAS NEM MÁS "Eu vos chamo de amigos." João 15:15 Com a parábola do bom samaritano, Jesus estava falando da natureza humana. Ele não estava dizendo que somos fundamentalmente maus como os ladrões ou automaticamente bons como o samaritano. Nossa natureza essencial, de acordo com Jesus, se manifesta na relação. Nossa necessidade básica é nos relacionarmos uns com os outros a fim de sermos completos. Freqüentemente usamos várias desculpas para negarmos a percepção de que estamos vitalmente ligados aos outros. Eles necessitam de nós e, o que é ainda mais assustador, nós precisamos deles. A área da minha vida em que tive mais dificuldade em aceitar essa idéia foi a do relacionamento com o meu pai. Raramente víamos as coisas do mesmo jeito e discutíamos com freqüência. Só consigo recordar poucas vezes na minha vida em que não me senti tenso ao lado dele. Nosso relacionamento foi assim até a sua morte. Quando recebi a notícia de que meu pai estava com câncer, fiquei chocado, em parte porque tinha a ilusão de que essas coisas só aconteciam com as outras pessoas e em parte porque não estava pronto para a sua morte. Eu sabia que o nosso relacionamento não era bom e não queria que ele saísse da minha vida sem que tivéssemos procurado nos aproximar. Embora não mantivéssemos muito contato desde que eu me tornara adulto, fiz planos para voar até Tulsa e passar o fim de semana com ele quando os médicos lhe deram alta do hospital e o mandaram para casa. Disseram que não podiam fazer mais nada por ele. Eu não sabia o que ia dizer, mas queria ter um tipo de conversa que não causasse conflito entre nós. Aquele iria ser um dos momentos mais importantes da minha vida. Nunca me esquecerei da minha última noite com ele. Eu estava sentado na beira da sua cama, buscando em vão palavras que expressassem como eu lamentava o nosso doloroso relacionamento. De um jeito que não era do seu feitio, ele me disse: —Mark, não temos conversado muito depois que você saiu de casa. Por que você não fala a respeito da sua vida hoje em dia? Sem pensar, deixei escapar: —Nossas conversas nunca foram fáceis. Calmamente, ele retrucou: —Bem, se abaixarmos a cabeça e rezarmos, você acha que poderemos conversar? Você conversa tão bem. Chorando, abaixei a cabeça e rezei junto com ele. Nas quatro horas seguintes tive a melhor conversa da minha vida com meu pai. Na verdade, acho que foi o único diálogo verdadeiro que tivemos. Descobri coisas a respeito da vida dele que eu nunca soubera e contei-lhe coisas a meu respeito. Pedi que me perdoasse por ter saído de casa tão zangado anos antes e viverei o resto da minha vida lembrando das últimas palavras que eu disse ao meu pai: "Eu te amo.” Uma das lições que aprendi naquele dia foi que não apenas eu, mas nós dois precisávamos curar nosso relacionamento. Ele entrou em coma no dia seguinte e não voltou a recuperar a consciência. Tinha resolvido seus problemas e estava pronto para partir. Compreendi que eu também tinha assuntos não resolvidos. De certa maneira, estava empacado e não conseguia levar a minha vida adiante por não ter resolvido meu relacionamento com ele. Era em meu benefício que eu precisava perdoá-lo. Somos profundamente influenciados pelos nossos relacionamentos com os outros. Precisamos deles para podermos ser saudáveis e completos. O fato de estarmos com raiva de uma pessoa não significa que cortamos o relacionamento com ela. A enorme distância física que eu colocara entre meu pai e eu não diminuiu nem um pouco o impacto do meu relacionamento com ele. Minha vida está melhor porque tive a oportunidade de fazer as pazes com meu pai antes de sua morte. Este fato me ajudou a reconhecer a importância de todos os meus relacionamentos, até mesmo dos mais difíceis, para tornar-me quem eu sou. Olhando para trás agora, consigo ver que nem eu nem meu pai éramos pessoas más no nosso relacionamento. Ambos estávamos contribuindo para os nossos problemas e nós dois tínhamos a responsabilidade de fazer alguma coisa a respeito da situação. Era somente a nossa mágoa que estava impedindo que fizéssemos as pazes. Exatamente como na parábola do bom samaritano, éramos como o homem espancado quando sentíamos que estávamos sendo feridos pelo outro, como os ladrões quando perpetuávamos a mágoa entre nós e como os levitas e os sacerdotes quando estávamos ocupados demais para nos dar ao trabalho de tentar melhorar as coisas. Graças a Deus conseguimos no final ser o bom samaritano quando paramos e fizemos um movimento para nos relacionarmos um com o outro. Jesus nos ensinou que, além de amar os outros, devemos tratar os mais próximos de nós como amigos. Isso muitas vezes é extremamente difícil. Embora Jesus se considerasse um líder, um profeta e até mesmo o Filho de Deus, quando ele disse aos seus seguidores: "Eu vos chamei de amigos", estava fazendo uma declaração a respeito da essência das pessoas. Não existe nada mais importante do que a nossa escolha deliberada e consciente de construir um relacionamento amoroso com aqueles que nos cercam, por mais difícil que isso seja. Este é um dos princípios que uso na terapia e que também tem me ajudado na minha vida pessoal. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Às vezes tratamos aqueles que amamos como nunca trataríamos nossos amigos. Devemos pedir perdão por isso. A IMAGEM DE DEUS NA TERRA "O Pai está em mim, e eu no Pai" João 10:38 Darren começou a fazer terapia quando estava no ensino médio e continuou a se tratar de um modo intermitente. Embora tenha se beneficiado de alguma maneira, também foi tratado com técnicas que considero ultrapassadas. Darren era muito tímido e reservado. Sua auto imagem era medíocre e acreditava que ninguém estava realmente interessado nele. Tinha poucos amigos e só conseguia manter um contato social nos bares depois que afastava as suas inibições com doses significativas de álcool. É claro que essa atitude dava origem a outros problemas. Em determinado momento, Darren topou com uma forma de terapia que fez com que ele se soltasse bastante. Disseram-lhe que fosse para uma sala repleta de outros pacientes e extravasasse quaisquer emoções que quisesse. Baseado no comportamento dos outros, Darren pôs-se a gritar e a se jogar no chão. De repente, foi capaz de expressar uma raiva violenta que reprimira a vida inteira. Ao contrário do que poderia esperar, Darren não foi rejeitado pelos seus sentimentos de raiva; na verdade, foi elogiado por ser capaz de expressá-los com tanta liberdade. Ele se sentiu livre. Darren mal conseguia acreditar que pudesse mostrar aos outros o que tinha de mais inaceitável e repulsivo, e mesmo assim ser aceito. É extremamente curativo quando, em vez de sermos rejeitados, somos aceitos ao expressar os sentimentos que censuramos. No entanto, os efeitos dessa experiência não duraram. Em algum nível mais profundo, Darren não conseguiu acreditar que os outros o estivessem verdadeiramente aceitando. Ele achou que estavam fingindo, como todas as pessoas de sua vida. Inconscientemente, imaginou que havia algo a seu respeito que elas rejeitariam. Assim, suas explosões de raiva começaram a aumentar progressivamente. Gritava com os outros, derrubava a mobília e desafiava zangado os terapeutas quanto estes tentavam colocar limites no seu comportamento. Darren foi finalmente convidado a retirar-se do grupo de terapia, o que o deixou muito magoado. Os terapeutas reconheceram sua necessidade de se expressar, mas não perceberam a importância do relacionamento deles com Darren quando ele se manifestava. O simples fato de expressarmos nossas emoções não é benéfico, mas ser acolhido e compreendido ao externá-las pode ajudar muito na cura. Quando Darren sentia que a expressão dos seus sentimentos era aceita pelos outros, a terapia era capaz de curar mágoas passadas. Mas quando ele se sentiu rejeitado por expressar a sua raiva, a terapia se tornou uma repetição de traumas passados. Como já disse antes: os psicólogos estão reconhecendo hoje em dia a importância essencial dos relacionamentos em nossa vida, e a nossa terapia precisa sempre considerar este fato. Jesus ensinou que não podemos viver sem um relacionamento com Deus e com os outros, assim como não somos capazes de existir sem o ar que respiramos. Tentar viver uma vida isolada significaria violar a nossa natureza. Reconhecer que dependemos fundamentalmente de alguém fora de nós é a única maneira de satisfazer a nossa natureza. Muitos psicólogos estão chegando à mesma conclusão. Estamos reconhecendo que as pessoas só podem ter um "eu" ao se relacionarem com os outros.4 Jesus sempre se viu em um constante relacionamento com Deus.5 Ele disse: "O Pai está em mim, e eu no Pai." Esta profunda conexão entre eles era um modelo de como ele queria que nos víssemos. Os seres humanos não podem viver isolados. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A imagem de Deus em nós é a nossa capacidade de nos relacionarmos. A INTERPRETAÇÃO ERRADA DO OBJETIVO DA VIDA DE JESUS "A princípio seus discípulos não compreenderam..." João 12:16 O domingo de Ramos é lembrado na igreja cristã como o início da semana mais importante da vida de Jesus. Nesse domingo ele foi para Jerusalém viver seus últimos dias na Terra. As pessoas que souberam que ele estava chegando enfileiraram-se nas ruas para saudá-lo, agitando folhas de palmeira como um símbolo de vitória para um poderoso dirigente, mais ou menos como fazemos quando papéis são jogados dos prédios para receber os heróis. Para surpresa de todos, Jesus chegou montado em um jumento. Em vez de chegar à cidade com grande pompa, ele se serviu de um humilde meio de transporte para cumprir uma antiga profecia. Ele queria deixar uma coisa bem clara: ele era alguém com quem qualquer um podia se relacionar. Até mesmo João, o amigo mais chegado de Jesus, escreveu mais tarde a respeito desse evento dizendo que "não tinha entendido". As pessoas, tanto naquela época quanto agora, têm a tendência de achar que, se Jesus tinha o poder de mudar o mundo, ele deveria ter planos drásticos para varrer a corrupção e o mal que permeava o planeta. Jesus, porém, parecia continuar a dizer às pessoas que elas precisavam se relacionar com Deus. Meu amigo Steve não se interessa por religião, especialmente pelo cristianismo. Para ele, Jesus era um rabino moralista que se exibia como se possuísse uma virtude superior, tentando fazer as pessoas se sentirem culpadas se não agissem da mesma maneira. Steve acredita que a religião traz à tona o que há de pior nas pessoas, aproveitando-se da culpa que elas sentem. Infelizmente, acho que muitas pessoas religiosas também pensam como Steve. Muitas são religiosas porque se sentem culpadas e têm esperança de que através das práticas religiosas podem ser salvas. Elas seguem rituais religiosos, fazem contribuições financeiras e tentam viver uma vida religiosa para não se sentirem mal com relação a si mesmas. A noção de que Jesus queria mostrar às pessoas que elas são más para que vivam de forma mais digna é uma interpretação errada das idéias de Jesus. Jesus criticava o comportamento de algumas pessoas, mas aquelas que ele mais censurava eram exatamente as religiosas. Raramente ele reprovava as pessoas comuns. Quando se deparava com alguém que estivesse se comportando mal, dizia para a pessoa "ir embora e não pecar mais", sem dar ênfase ao mau comportamento. O objetivo da vida de Jesus não era demonstrar que as pessoas eram más, mas fazer com que elas soubessem que precisavam relacionar-se com Deus e com os outros de forma amorosa. Ele acreditava que, se reconhecêssemos essa necessidade humana básica, não desejaríamos agir de modo nocivo. É fácil enganar-se ao interpretar o objetivo da vida de Jesus se encararmos sua missão como um dever moral, se acreditarmos que Jesus considerava que as pessoas eram fundamentalmente más e precisavam ser moralmente libertadas através de princípios religiosos. O objetivo da vida de Jesus não era fazer com que tivéssemos mais moralidade e sim nos tornar mais amorosos em nossas relações. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A boa moralidade se origina nos bons relacionamentos. VOLTANDO AO JARDIM DO ÉDEN "Eu vim para que elas tenham vida, e a tenham em abundância.” João 10:10 Há anos Michael não fala com o irmão, Tom. Todos na família estão a par da animosidade existente entre os dois, mas ninguém sabe o que fazer a respeito. Ambos são teimosos e cada um acha que foi profundamente ofendido pelo outro. Na última vez que a mulher de Michael tentou discutir a situação com ele, a conversa terminou com Michael gritando: "Não quero que o nome dele volte a ser mencionado nesta casa.” Na verdade, nem Michael nem Tom conseguem se lembrar de como surgiu a inimizade entre eles. No entanto, ambos são capazes de recordar numerosos incidentes que usam para manter ativo o ódio existente entre os dois. Michael sente raiva de Tom por este não ser o tipo de irmão mais velho de que ele precisava, e Tom também sente raiva de Michael por vê-lo tão ressentido. Cada um acha que o outro lhe deve satisfações e nenhum dos dois está interessado em fazer alguma coisa para melhorar a situação. O que nenhum dos dois percebe é que ambos precisam um do outro para serem completos. A guerra entre os irmãos produz feridas e sofrimentos nos dois. Apesar do que Freud achava originalmente, não é natural que membros de uma mesma família sejam agressivos uns com os outros. Esse tipo de animosidade é um sinal de que algo está errado. Michael precisa reconciliar-se com Tom em seu próprio benefício. Ele resiste à idéia de aproximar-se do irmão por achar que estaria "cedendo". O que ele não percebe é que está prejudicando a si mesmo por permitir que o desentendimento continue. A reconciliação cura as feridas da nossa alma. A amargura e a raiva de Michael em relação ao irmão afetam todos os seus relacionamentos. Jesus via o trabalho da sua vida como a reconciliação da humanidade com Deus. As Escrituras judaicas ensinavam que Adão e Eva haviam sido expulsos do Jardim do Éden por terem desobedecido a Deus. Do ponto de vista teológico, esse evento foi chamado de Queda, porque a humanidade caiu em desgraça em relação a Deus. A missão de Jesus era mostrar-nos o caminho de casa. Quando penso nessa "Queda" a partir de uma perspectiva psicológica, me pergunto: "De onde eles caíram?" A resposta que Jesus daria é a seguinte: "De um relacionamento com Deus." O que a humanidade perdeu no Jardim do Éden foi o relacionamento íntimo com Deus. Jesus viu a si mesmo como a ponte entre Deus e a humanidade. Essa foi a nossa redenção, o nosso relacionamento restaurado com Deus. Acredito que a vida seria melhor se pensássemos com mais freqüência que a nossa salvação consiste em restabelecer os relacionamentos rompidos. Quando um relacionamento se rompe, a maioria das pessoas se preocupa em descobrir quem está errado. Quando somos feridos, procuramos logo o culpado, querendo que pague por isso. Jesus, por outro lado, achava que as coisas poderiam ser reparadas a partir do que damos aos outros e não do que recebemos deles como forma de pagamento. PRINCÍPIO ESPIRITUAL: Nós nos salvamos restaurando os relacionamentos.
por Mark W. Baker
Leia capítulo por capítulo
clique aqui⇨JESUS, O MAIOR PSICÓLOGO QUE JÁ EXISTIU
Comentários
Postar um comentário