A Paixão de Cristo
Segundo o cirurgião CAPÍTULO 27

RETRAÇAO DO PULMÃO EM CADAVER RECENTE

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Eis o fato novo que anunciei no fim d o número 2 .0 dêste
capítulo (pág. 1 2 1 ) . Até aqui reproduzi, quase sem nada mudar, o
texto de minhas primeiras edições, porque êste fato não modifica
minhas conclusões Ptnatômicas sôbre a chaga do coração ; só afeta
minha interpretação do fluxo transversal posterior. Preferi esperar
até aqui para, duma só vez, dêle tirar com sinceridade e
clareza as conseqüências.
Sempre afirmei que sendo minhas conclusões de caráter cientüico,
estava pronto a modificá-las, se novos e indubitáveis fatos
viessem razoàvelmente a isso me com:tranger. É a probidade cientüica
elementar.
Foi o Dr. Vincent Donnet, assistente de fisiologia em Marselha,
que me trouxe as provas experimentais de um fato, desta
ordem, em outubro de 1 951. Publicamos então o resumo de Donnet,
com meus comentários no Boletim da Sociedade de S. Lucas.
Assim, pois, num homem sadio, como o era Jesus, a abertura
traumática da pleura, acarreta; se fôr feita pouco tempo após a
morte, uma retração do pulmão correspondente, sensivelmente igual
à que se produziria em um vivo. O fato, cousa curiosa, me foi confirmado
alguns dias mais tarde, pelo Dr. Métras, especialista em
ciruriia do torax, em Marselha. Cada um dos dois pesquisadores
ignorava as averiguações do outro, o que vem lhes dobrar o valor.
Insisti sôbre o fato de que minhas experiências tinham sido
feitas em cadáveres de autópsias, portanto mais de 24 horas após
a morte, nem tinha outros à disposição. Não dissimulei portanto,
que estas não eram exatamente as condições do ferimento produzido
pela lança no Calvário. Nestes cadáveres o pulmão não se retraia e a pleura não ficava aberta. Justamente o oposto do que
se passa em um cadáver recente, como era o de Jesus, no qual o
pulmão se retrai e a cavidade pleural se dilata. Que resulta disto?
E o que teria visto S. João?
Recordemos, primeiro, seu texto que é a base de tõda esta
pesquisa : " mas um dos soldados feriu-lhe o lado com a lança,
e logo saiu sangue e água." ( P. Lagrange ) . São Jerônimo traduziu,
"continuo", i . e . "no mesmo instante, logo, incontinenti". São João
escreveu em grego "euthus" que signüica : "imediatamente, logo"
( e que quer dizer: direto, diretamente ) .
Segue-se desta exegese, sem discussão possível, que n o instante
preciso em que o golpe atingia o coração, São João viu o sangue
e a água correr ao longo do ferro da lança, instantânea, simultânea
e distintamente. Não viu uma mistura de sangue e de água. Viu
sangue e também água.
Estavam aliás provàvelmente sob certa pressão, dado o derramamento,
pericárdico que comprimia o coração. Deve ter esguichado
no ar e caído no chão. Mas atrás do ferro, uma 􀜯arte se
espalhou pelo peito, para ali formar o coágulo anterior. Enquanto
o ferro estêve na chaga, servia de guia para a saída dos líquidos.
Por outro lado, varando a lingueta pulmonar direita pre-cardíaca,
impedia a retração do pulmão.
Uma vez retirada a lança, portanto logo após o esguicho, o
pulmão se retraiu, a pleura ficou aberta, e, em seu sinus diafragmático,
muito profundo para trás, se acumulou o que restava de serosidade
pericárdica e se esvasiou o sangue da rêde cava superior, o
que não constitui pouca cousa. Coágulo algum teria tido tempo de
se formar na aurícula antes que êste sangue venoso da cava superior
tivesse podido, em sua maior parte, se derramar na pleura.
Já havia eu afirmado que a hipótese de uma pericardite serosa
traumática me parecia cada vez mais aceitável, sobretudo após
ter falado, no congresso de Roma em 1 950, com meu amigo Judica.
Não se poderia supor que o mesmo fenômeno tivesse podido se produzir
na pleura e que houvesse ali um certo grau de pleurite
serosa traumática de rápido desenvolvimento?
De qualquer maneira, pode-se admitir que no momento da
Deposição da Cruz, havia na pleura considerável quantidade de
sangue da veia cava superior, mais ou menos diluído em serosidade.
É pouco provável que seu nível tenha atingido até a chaga lateral
toráxica, no 5.0 espaço, mas não seria impossível.
O que aconteceu agora, durante o transporte em posição horizontal,
da Cruz para o Túmulo? Não esqueçamos que a chaga do
coração é, nitidamente lateral, está situada na região sub-axilar. É
muito provável que, nesta posição, o líquido pleural aflore a esta
chaga e transborde pelo lado direito, como o descrevi. Esta saída
de sangue e serosidade foi favorecida pelas oscilações transversais,
inevitáveis no transporte. Foi esta mescla hidrohemática que se
espalhou transversalmente na parte inferior das costas no meio das
pregas da faixa que suponho tenha sido usada no transporte. Uma
tal diluição do sangue explica talvez, o largo halo em volta, de coloração muito pálida, que envolve e ultrapassa para cima e para
baixo os coágulos irregulares da hemorragia posterior. Talvez até
mesmo o explique melhor do que a exsudaçáo de sérum pelos
coágulos ainda frescos decalcados sôbre o Sudário, como vinha eu
admitindo até agora?
Que aconteceu, pois, ao sangue da veia cava inferior, do qual
sempre supus o refluxo durante o transporte? Interviria aqui UDl
outro fato que não ouso afirmar, por não estar muito seguro dêle.
Donnet, que foi querrí. apontou, continua suas pesquisas neste sentido
e não publicou ainda coisa alguma. Digamos apenas que, muitas
vêzes, encontrou êle no cão, após "o lançaço" um coágulo
cruórico na aurícula direita e terminação da veia cava inferior, que
impedia o refluxo. Resta saber se as condições humorais são
análogas. É muito possível que o tempo de coagulação esteja muito
modificado num homem que acaba de sofrer, em menos de 24 horas,
várias hemorragias graves. Deixarei a questão suspensa não querendo
precipitar os estudos de um colega que me é um dos mais
simpáticos.
Como quer que tenha acontecido, havia bastante sangue da
yeia cava superior diluído na pleura para que esta mistura explique
fàcilmente a formação do fluxo posterior, como o descrevi. Se
sobrevier também o sangue da veia cava inferior, então a quantidade
torna-se superabundante. Mas é necessário admitir que comece
êle por se derramar da aurícula direita para a pleura aberta e que
transborde em seguida, simultâneamente, pela chaga do lado.
Em resumo, pode-se perceber fàcilmente que minhas localizações
anatômicas bem como minhas conclusões para o jôrro descrito
por São João e para o coágulÕ anterior ficaram sem alteração.
Quanto ao fluxo transversal posterior, não provém esta hemorragia,
diretamente do coração, através de um túnel pulmonar, mas
sim da pleura onde o sangue se acumulara.
Serão por acaso tôdas estas conclusões do capitulo V definitivas?
Isto supõe a priori que as circunstâncias da morte de Jesus coincidam
exatamente com as das experiências de Donnet. Acabamos
de ver que, após tantos suplícios, talvez as condições humorais
estivessem modificadas.
É 􀌹ambém provável que a rigidez cadavérica não se tenha
estabelecido na forma como habitualmente se apresenta em nossos
enfermos e em nossos animais de experiência. Já insisti mais de
uma vez sôbre um fato do qual não me parece lícito duvidar: após
tão espantosa luta física e após tal tetania, a rigidez deve ter sido
brutal, instantânea, total de uma só vez.
Rodino, em seu artigo do "Giornale di medicina militare", de
março-abril de 1953, se limita a citar meu opúsculo "Cinq Plaies" e
parece não ter lido êste meu último livro que, no entanto, teve
também uma edição em italiano, pois se o tivesse feito teria podido
ai ler o que, já em 1 940, escrevera eu no outro opúsculo ·'La
Passion Corporelle" : "A rigidez cadavérica se apossou brutalmente
de Vós como de um cervo abatido após carreira forçada" ; o que
o autor encontrou em Hynek.
Rodino fala de rigidez cataléptica, o que vem a dar no mesmo.
Moa dela tira uma dedução muito interessante: Esta rigidez, sea-undo
êle, se teria estendido a todos os músculos lisos, em particular
aos do coração e bronquios. E daí conclui que o pulmão,
podia muito bem não se ter abatido como em um cadáver recente
ordinário. O túnel pulmonar pode ter ficado aberto e, após o
primeiro Jacto de sangue e água ao longo do ferro da lança, ter
continuado a deixar correr diretamente para fora, pelo menos
durante algum tempo, os líquidos cárdio-pericárdicos.

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