A Paixão de Cristo
Segundo o cirurgião CAPÍTULO 24

CHAGA DO CORAÇÃO
Resultado de imagem para CORAÇÃO DE CRISTO CHAGAS



Disse de propósito "chaga do coração" -:.
n􀁽o chaga do lado,
porque tôda a tradição o afinna e a expenenc1a mo confirmou.
O lançaço dado no lado direito atingiu a aurícula diretta do coração,
perfurando-lhe o pericárdio.
"Ad Jesum autem cum venissent (milites) ut viderunt eum
jam mortuum, non fregerunt eius crura, sed unus militum, lancea
latos ejus aperuit, et continuo exivit sanguis et aqua" (Jo. 19,33 s.)
- "Ora, quando (os soldados) vieram a Jesus, como o vissem já
morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriulhe
o lado com a lança e , ato continuo, saiu sangue e _ãgua". Vimos,
no capítulo li, a razão dêste lançaço inexplicàvelmente dado a um
cadáver. O corpo do supliciado era legalmente devolvido à famflia,
sob autorização dada pelo juiz. Mas o carrasco não o podia
entregar a não ser após se ter assegurado da morte (e, quando
necessário, após tê-la provocado, o que não é o caso presente)
por um golpe que abrisse o coração. :tste gesto que nos poderia
parecer estranho não é outra cousa senão a execução de um
regulamento militar.
Esta saída de sangue e de água de um cadáver sempre comoveu,
e profundamente, exegetas e teólogos. Já respondia Orígenes
aos sarcasmos imbecis de Celso (Contra Celsum, li, 36) : "Sei
que de um cadáver não sai sangue nem ãgua, mas o fato de
Jesus é rrliraculoso". - Vem isto provar, de passagem, que os católicos
procederiam melhor, confiando em uma tradição bem estabelecida
do que pedir socorro ao último batel que se proclama
científico, pelo receio de não parecer estar em dia com a ciência,
e é o que se verifica com demasiada freqüência; a alta Autoridade
responsável e inspirada que é a Igreja lhes dá, no entanto, o exemplo
de prudência.
Quanto à água, . vamos ver em breve sem a menor sombra
de dúviãa, do que é que se trata. Mas, não sem espanto, vemos
perpetuar-se através dos séculos esta estranha idéia que o sangue
está coagulado no cadãver, e que, sem milagre, não poderia sair
sangue líquido. No entanto, os sacrüicadores, os arúspices e mesmo
os magarefes devem saber muito bem que, pelo menos, as veias
maiores deixam correr uma onda de sangue, quando as abrem ao
limpar um animal.
Não quero acumular textos, mas encontro êste. êrro confirmado
na "Descrição do Santo Sudário" de Mons. Paleotto, arcebispo
de Bolonha, publicada em 1598, de que já falei: "Verdadei-
1 1 3
ro snnguc c verdadeira água sairam do peito do Redentor . . . e
dl'lc :miram após a morte; foi isto cousa admirável como o nota
S. Ambrósio que nisso reconhece um milagre dizendo . . . que o
sangue se coagula habitualmente após a morte no corpo". Cita
S. Ambrósio que nisso reconhece um milagre dizendo . . . que o
:;aisse de um cadáver . . . porque, seguramente, após a morte, o
sangue se coagula em nossos corpos - nam utique post mortem
:sanguis in nostris corporibus congelascit". Para Mons. Paleotto,
um outro fato é ainda mais milagroso, e é que se tenha podido
ver sangue e água sair ao mesmo tempo, porém distintos um do
outro, uma vez que deveriam ter se misturado intimamente.
O R. P. Lagrange, eminente exegeta, a quem tomei emprestada
a citação de Orígenes, escreve em seu comentário sôbre S. João, a
propósito desta saída de sangue e água : "João o sabia também
(que era miraculoso) e foi por isto que tanto insistiu em seu
testemunho ocular. Não tentaremos, portanto, fornecer uma explicação
fisiológica mais ou menos aproximada. Mas, precisamente
porque olha o fato como milagroso e porque atesta sua realidade,
não se tem o direito de dizer que não há ali senão um valor simbólico.
É a realidade que nos importa, antes de tudo, como base
do símbolo". Que me perdoem a atitude de atoleimado, mas francamente,
não vejo que S. João tenha afirmado um milagre. São
João se admira, bem o vemos, mas não será, sobretudo, a saída
de água ao lado do sangue que é a causa de sua admiração? Não
queria êle dizer: saiu sangue e também água? Talvez soubesse que
pode sair sangue de um cadáver, mas a água deveria lhe parecer
extraordinária, como o seria, à primeira vista, mesmo para um
médico de nossos tempos.
Quanto às explicações simbólicas que todos os Padres acrescentaram
a esta realidade, solenemente afirmada, são por demais numerosas
para que nelas me demore e além disto, tal excurso sairia
de meu assunto. Estão tôdas orientadas para a Redenção e Purificação.
Escolheremos apenas uma, bastante bela, de S. Jerônimo,
não citada pelo P. Lagrance: "Latus Christi percutitur lancea, et
Baptismi atque Martyrii pariter sacramenta fundantur" ( Epístola
83, ad Oceanum) . :tste duplo fluxo consagra simultâneamente o
Batismo de água e o Batismo de sangue pelo martírio.
Em que região do lado foi aplicado o lançaço? Uma tradição
constante aponta o lado direito do peito, e o fato é tanto mais
importante quanto mais comum é a opinião, mesmo hoje em dia,
que aponta o coração como situado do lado esquerdo o que é falho.
O coração é órgão mediano e anterior, deitado sôbre o diafragma
entre os dois pulmões por trás da couraça esterno-costal, no mediastino
anterior. Só sua ponta é que está nitidamente à esquerda,
mas sua base ultrapassa à direita, o esterno.
Desta tradição do golpe à direita, apresentarei apenas duas
citações à guiza de exemplo : S. Agostinho escreve na "Cidade de
Deus" (livro 15, cap. 26): "Ostium in latere dextro accepit, profecto
illud est vulnus, quando Jatus crucüixi lancea vulneratum est
- Abriram-lhe uma porta no lado direito que é, sem dúvida,aquêle ferimento (que lhe fizeram) quando o lado do crucifixo
foi ferido pela lança". - O Papa Inocêncio 111 ( 1 190-1216) escreveu
(Lib. Myster. Evangel. lib. 2, cap. 58 ) : "Calix ponitur ad
dextrurn oblatae latus, quasi sanguinem suscepturus, qui de latere
Christi dextero creditur profluisse - Coloca-se o cálice à direita
das oblatas (hóstia da missa) como que para receber o sangue
que cremos ter corrido em abundância do lado direito de Cristo".
Mas limitemo-nos ao texto evangélico ; um dos soldados feriu.
lhe o lado com a lança, e logo saiu dali sangue e água. Pedi à
anatomia e à experimentação a explicação dêste texto e agora
"Vamos ouvi-la tal como me responderam.
A mortalha tem manifestamente os traços desta chaga do lado
esquerdo, o que quer dizer, sendo suas imagens inversas que o
cadáver a tinha do lado direito.
É curioso que, apesar do preconceito corrente que coloca o
coração à esquerda, embora somente sua ponta aí pulse, nunca me
tenha alguém contrariado por causa desta questão do lado. Ou
melhor, nunca me fizeram objeção por causa dos estigmatizados.
É verdade que S. Francisco tinha sua chaga do lado direito. Mas,
depois dêle, numerosos são os que a têm do lado esquerdo, Teresa
Neumann, por exemptó. Evidentemente, esta variação de lado é
mais aparente que as
-
variações de localização na mão; assim que
também aqui não faltam as explicações . . . que nada explicam.
Esta por exemplo: O estigmatizado teria localizada a chaga do
mesmo lado em que vê a chaga de Jesus crucificado. Em vez de
propor teorias também cientüicas, prefiro confessar que isto ultrapassa
o domínio da ciência e respeitar o mistério dêstes fenômenos.
Sempre, no entanto, virá isto reforçar a opinião emitida a respeito
das mãos: Têm os estigmas uma significação puramente mística
nem podem absolutamente pretender ser uma reprodução mais
ou menos exata das cinco chagas da Paixão. (cf. pág. 91 s . ) .
N a impressão anterior do Sudário (figs. 6 e 7 ) , vê-se do
lado esquerdo (por conseguinte do lado direito do cadáver) , compacta
hemorragia, em parte, escondida no bordo externo por uma
peça de tecido costurada pelas Clarissas de Chambéry, após o incêndio
de 1532. Tem ela, no alto, pelo menos, 6 em de largura,
desce ondulando e se estreitando em uma altura de, pelo menos,
15 em. O bordo interno apresenta-se estranhamente recortado por
chanfraduras arredondadas para as quais não se encontra, à primeira
vista, uma explicação, principalmente em se tratando de
um fluxo de sangue num cadáver imóvel e vertical. Não se espalha
de maneira homogênea e apresenta mesmo algumas lacunas.
Pintor algum se lembrou de representar um fluxo de sangue
tão irregular. Logo, corresponde isto à realidade e, uma vez mais,
é a imaginação dos artistas que está em falta (que gênio não devia
ter sido êsse falsário! ) . Só a natureza e, portanto, o Sudário poderia
ter ficado na verdade impecável.
Meu amigo Antônio Legrand teve a idéia engenhosa de pintar
após ter assinalado os pontos de referência que mais adiante fixaremos
de acôrdo com o Sudário, a chaga do lado e o coágulo que
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se lhe segue por baixo, no peito bem musculoso de um homem
do porte de Cristo.A pintura foi feita, está claro, na posição de
sepultamento, com as mãos cruzadas sôbre o hipogástrio. Em seguida,
fê-lo tomar a posição ãe crucifixão, com os braços a 65°.
Ora, nesta posição, viu êle imediatamente salientarem-se as costelas
médias e, em cada uma delas, a extremidade anterior de
uma digitação do músculo Grande Denteado. A cada ondulação do
bordo do coágulo correspondia uma destas saliências musculares,
no entanto, bem conhecidas dos artistas. Por que nelas não pensaram?
- Porque pintavam apenas fluxos de sangue, porque ignoravam
a fisiologia da coagulação, porque não sabiam que o sangue
devia se espalhar, se atrasar em sua descida e se coagular mais
fàcilmente em um coágulo mais largo na altura de cada uma destas
cavidades intermusculares. E, teria eu mesmo pensado nessas particularidades,
mesmo com tudo o que sei ? !
A mancha no Sudário, vista à luz d o dia, ressalta por sua
coloração carminada como tôdas as imagens sanguíneas, sôbre o
conjunto da impressão que é sépia. Houve evidentemente, ali um
importante derramamento de sangue, do qual grande parte deve
ter caído no chão e o resto se coagulou em contacto com a pele,
por camadas sucessivas. A parte superior do coágulo, a mais vizinha
da chaga, é a mais espêssa, como é a mais larga porque o fluxo
é compacto. Isto, como já dissemos, é um fato de experiência corrente
para os cirurgiões. Dá-se o contrário, quando o sangue gotejando
mais lentamente parou em sua descida de encontro a um
obstáculo (Vêde : Fronte - Coroação) .
Na parte superior da imagem sanguínea distingue-se nitidamente,
tanto no original como em fotografias, uma mancha oval
com o eixo maior um tanto oblíquo de dentro para fora e de baixo
para cima que dá, nitidamente, a impressão da chaga do lado, de
onde saiu êste sangue. Tem esta chaga 4,4 em no eixo maior e
1,5 em na altura. É dela que devemos procurar a localização exata
para a transferir a outro corpo. Notemos, de passagem, que a reliquia
do ferro de lança que se encontra no Vaticano, tem 45 m􀌷. em
sua parte mais larga. As chagas são sempre mais estreitas do que
os agentes perfurantes por causa da elasticidade da pele.
Fiz decalques e tomei medidas em :totografias de tamanho natural,
colocadas à minha disposição por M. Vignon e pelo R. Pe.
d'Armailhacq. Nestas belíssimas provas, vê-se nitidamente a saliência
dos peitorais e mesmo, sem dificuldade, se distinguem os mamilos.
A extremidade interna da chaga está a 9,5 em abaixo e um
pouco para fora do mamilo, em uma· horizontal que passa a 9 em
abaixo dêle. Mas o mamilo não é ponto de referência. No corpo,
só as partes do esqueleto permitem boas localizações. Procurei, portanto,
do lado do esterno. Vê-se, na base do pescoço, uma série de
manchas espalhadas, das quais uma med􀌸ana representa seguramente
a cavidade supra-esternal; as outras laterais, um pouco mais
altas, correspondem às cavidades supra-claviculares. O bordo inferior
da mancha mediana marca portanto sensivelmente o bordo superior
do esterno.
Na cavidade epigástrica há uma mancha vertical, irregularmente
retangular, dividida e esmaecida em sua parte inferior que
revela tão nitidamente a cavidade situada entre os 2 músculos
grandes direitos e cujo fundo repousa sôbre o apêndice xüóide. O
bordo superior desta mancha é, portanto, a extremidade inferior do
esterno. Mais abaixo vê-se a impressão do umbigo; mais abaixo ainda,
as mãos se cruzam diante do pubis, e, em todo êsse conjunto, as
proporções parecem perfeitamente justas e harmoniosas. Pode-se
mesmo, nos lados, distinguir os rebordos costais caindo fora de
prumo sôbre os hipocôndrios. A parte inferior desta mancha, do
lado direito, desce até abaixo dêste rebordo atingindo a parede
abdominal.
O esterno assim delimitado tem uma altura de 18 em, o que
nada tem de exagerado num homem de 1 ,78 m mais ou menos.
Nada mais falta senão localizar a chaga com relação à linha mediana
e à ponta do esterno ( extremidade inferior) , referência fácil
de se encontrar em outro corpo.
Ora, a extremidade inferior e interna da chaga está em uma
horizontal passando a 3 em abaixo da ponta e se encontra a 12 em
da linha mediana. A extremidade superior e externa está em uma
horizontal passando a 0,5 em abaixo da ponta e se encontra a
16 em da linha mediana. Eis pois localizada a chaga, não ncs
resta senão transferi-la a corpos vivos e radiografá-los, ou a cadáveres
para experiência e dissecá-los.
Antes de começar estas experiências, demos ainda uma olhadela
ao Sudário que apresenta dêste lado duas novas imagens anormais,
dois novos erros aparentes, que como já começamos a aprender,
são os mais instrutivos.
De há muito que já se observou não ter o braço direito a
mesma posição que o esquerdo. O cotovelo está nitidamente mais
abaixo e mais para fora que o do esquerdo. Quiseram explicar
esta anomalia pelo fato de que o próprio ombro direito está um
pouco mais baixo. A observação é exata e dela se têm dado
diversas explicações desde a deslocação ( ? ) da articulação da espádua,
até a deformação profissional dos operários não-canhotos
que teriam a espádua direita normalmente abaixada. Esta última
explicação fornecida pelo Dr. Gedda pode ser verdadeira ntas
não é suficiente.
Com efeito, mesmo levando-se isto em conta, o braço direito
é mais comprido que o esquerdo e, sobretudo, o ante-braço direito
é, também êle, mais comprido que o esquerdo. Além disto, a saliência
do grande peitoral direito é claramente mais larga que a
do esquerdo. Houve portanto wn deslocamento do cotovelo direito
para fora, com alongamento aparente do braço e do antebraço direito.
- Estranho! E muito pouco recomendável para wn pintor
de gênio!
Mas há ainda outra coisa. Quando, dentro em breve, com
nossos pontos de referência, formos marcar a chaga do coração
sôbre o torax de um homem vigoroso de 1,80 m, verificaremos que
esta chaga se encontra na face lateral do torax, nitidamente, atrás do plano anterior esternocostal. Se estendermos um pano sôbre
êsse peito, verificaremos que passa, em ponte, dêste plano anterior
para a saliência do braço direito colocado em posição de
sepultamento. Não tocará a chaga do lado nem o coágulo subjacente.
- Mais estranho ainda; porque a não ser por contacto
direto, chaga e coágulo não teriam podido ser declarados. Ora, o
decalque é admirável.
Mas, suponhamos que mão amiga tenha feito o gesto perfeitamente
natural de pousar sôbre êsse pano estendido para encostá-
lo na cavidade bráquio-toráxica, sôbre a chaga do coração. A
"mão empurra forçando um pouco para dentro o tecido que cstava
sôbre o braço; e êste irá deixar sua impressão em uma zona
mais exterior que a zona primitiva. - Estendamos de novo o
Sudário tal como o vemos hoje. A impressão do cotovelo direito
estará mais para fora do que deveria estar, mais para fora do
que a do esquerdo. O braço, e mais ainda o ante-braço, serão
mais longos que os do cadáver. - E, por isto mesmo, o coágulo
do coração ficará magnificamente decalcado.
Devemos esta demonstração ainda a meu amigo Antônio Legrand
( "Dossiers du Saint Suaire", Paris, nov. 1 93 9 ) . Quem poderia ter
sido o falsário tão astucioso, capaz de imaginar tôdas estas impressões
falaciosas? - Mas, voltemos à experimentação.
1.0 - IN VIVO. RADIOGRAFIAS
Recortei uma placazinha metálica com a forma e dimensões
das da chaga do lado e a fixei em alunos escolhidos por seu porte,
aproximadamente o mesmo que o de Jesus, na região exatamente
determinada pelas medidas há pouco descritas. Depois fiz bater,
no hospital de São José, teleradiografias (com a ampola a 4 m ) ,
para ter imagens sensivelmente orto-diagramáticas, tendo as mesmas
dimensões, que o corpo radiografado. É uma destas radiografias
que reproduzo esquemàticamente aqui neste livro, conservando
apenas a parte anterior do esqueleto e as sombras viscerais para
maior clareza. (fig. 1 5 ) .
Como s e vê a placazinha se projeta bastante para fora sôbre
a 6.6 costela ultrapassando o 5.0 espaço intercostal direito. As
medidas continuam a fornecer os mesmos algarismos que os das
obtidas no Sudário. Atrás do esterno que está nitidamente visível
em sua parte superior, vê-se a sombra cárdio-pericárdica ( coração)
tendo por cima a sombra qos grandes vasos ( aorta, veia cava superior)
. A parte direfia do coração ultrapassa notàvelmente o bordo
direito do esterno. O coração repousa sôbre a sombra hépato-diafragmática
(fígado) . Sob o diafrágma esquerdo se desenha a bôlsa
gasosa do estômago. A convexidade direita do coração se encontra
a 8 em do meio da chaga, seguindo uma linha um pouco oblíqua
para dentro e para o alto. A chaga está nitidamente acima da
massa do fígado.
Portanto a lança escorregou sôbre a 6.6 costela e perfurou o
5.0 espaço intercostal e penetrou na profundidade. Que encontrou
em se&Wda? A pleura e o pulmão. Se o soldado de S. João tivesse dado seu golpe em direção vizinha à vertical, primeiro, quase não
teria podido perfurar o espaço intercostal; e se o tivesse conseguido
a ponta de sua lança se teria perdido no pulmão, onde só
teria feito sangrar algumas veias pulmonares. Teria sido possível
correr sangue em muito pequena quantidade, mas não água. Se alí
houvesse liquido pleural, estaria êste forçosamente acumulado no
ponto inferior, por trás e sob o nível da chaga. Refiro-me está
claro, ao hidrotorax, líquido de transudação pleural de origem
agônica, como iremos ver no pericárdio. A hipótese, que foi lançada
já há bastante tempo, na "Loucura de Jesus", de uma pleurisia
tuberculosa, queria ser, para seu autor, blasfematória, mas é na
realidade absolutamente insustentável. A ela voltaremos em breve.
O lançaço, foi, portanto, oblíquo e próximo da horizontal o
que é fácil de executar se a cruz, como penso, não fôsse muito alta.
Se ultrapassasse os dois metros, o que julgo inverossímil, teria
sido necessário um cavaleiro para desferir êste golpe. Mas os soldados
e os guardas, principalmente os enviados por Pilatos para
o crurürágio eram todos de infantaria, e o centurião era também
um oficial não montado. Com a cruz baixa, de dois metros, que
adotei, um infante não teria que fazer outra cousa senão levantar
os braços na posição que chamamos em esgrima à baioneta: "cabeça
em guarda e atacando" para desferir corretamente semelhante
lançada.
􀃓ste golpe desferido ao coração pela direita, sendo sempre mortal,
deveria constituir um dos golpes clássicos e ser ensinado nos
exércitos romanos; ianto mais que o lado esquerdo estava normalmente
protegido pelo escudo. Encontrei aliás, ao reler os "Comentários
de Cesar" que a expressão "latus apertum - lado descoberto
(desprotegido)" era clássica para designar o lado direito. Farabeuf
nos ensina que os golpes desferidos nos espaços intercost.<:.is, no
bordo direito do esterno, são irremissíveis por abrirem a parede
muito delgada da aurícula direita. E isto continua, perfeitamente
exato, hoje, ainda que com rápida intervenção do cirurgião.
Então a ponta se dirige naturalmente através da parte anterior,
delgada, do pulmão direito e atinge, segundo as radiografias, após
um trajeto de 8 em, o bordo direito do coração envolvido pelo pericárdio
(figs. 15 e 1 6 ) .
Ora, aqui está o cerne da questão, a parte d o coração que últrapassa
à direita o esterno, é a aurícula direita. Esta auricula,
prolongada em cima pela veia cava superior e em baixo pela veia
cava inferior, está sempre no cadáver cheia de sangue líquido.
Jesus, como lemos de inicio no texto Evangélico, estava bem
morto por ocasião da lançada. Parece que S. João compreendeu
admiràvel.mente a importância dêste fato porque acrecenta, com
insistência significativa, que nos faz lembrar as primeiras linhas
de seu Evangelho: "Et qui vidit testimoniwn perhibuit, et verum.
est testimonium ejus. Et ille scit qui vera dicit, ut et vos credatis.
- E aquêle que viu (João) prestou testemunho, e seu testemunho
é verdadeiro. E 􀃓le (Jesus) sabe que disse a verdade, a fim de que
também vós creiais". Como diz o P. Lagrange, "aquêle", "ekeinos" em grego, designa o Salvador que João cita como testemunha para
apoiar a veracidade de seu próprio testemunho.
Se o golpe tivesse sido desferido do lado esquerdo, teria atingic»
os ventrículos que no cadáver estão vazios. Não teria então corrido­
sangue, mas tão somente água, como vamos ver. A Mortalha, a
tradição e o raciocínio nos indicam que a chaga estava do lado
direito. Nada mais nos resta, portanto, senão fazer experiência em
um cadáver, que isto nos reserva ainda outras surprêsas.

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