A Paixão de Cristo

Segundo o cirurgião CAPÍTULO 19

SOFRil\IENTOS PRELiMINARES
ESTUDANDO AS CHAGAS

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Vamos agora começar a estudar tôdas as chagas da Paixão de
Jesus. Minhas primeiras publicações após as experiências empreendidas
de 1 932 a 1 933, se tinham limitado voluntàriamente, às cinco
chagas: das mãos, dos pés e do lado. Tratava-se antes de tudo de
localizá-las e daí deduzir as modalidades da crucifixão. Era, portanto,
um trabalho especificamente anatômico, que não se püdia
fazer a não ser por experiências sôbre corpos humanos. Era necessário,
como o veremos, também uma aproximação, a maior possível,
do ser vivo. Mas, antes de retomar esta exposição, já bastante
difundida, desde há 18 anos e de desenvolvê-la, parece-me bom,
para que êste livro seja tão completo quanto o desejo, estudar, primeiro,
as sevícias suportadas por .Jesus como preliminares à crucifixão.
Os maus tratos, pelo menos uma boa parte dêles, infligidos
durante o processo noturno, na casa de Caifaz, e, de manhã, no
pretório, bem como o transporte da cruz já foram objeto de belíssimo
trabalho de meu amigo o Dr. Judica ( 1 ) do qual me servirei
amplamente sem que, no entarito, uma vez por outra, deixe
de discordar em algum detalhe e ao qual acrescentarei tambern
algumas observações pessoais sôbre a flagelação e sôbre a coroação
de espinhos.
Levarei a êste exame o mesmo espírito objetivo de que jamais
me separei em minhas pesquisas sôbre as cinco chagas. Mas para
quem já encontrou no Sudário, como aconteceu comigo, grande
número de testemunhos de sua veracidade, sem uma única exceção,
ser-lhe-á perfeitamente lícito tributar crédito às novas indicações
dêsse mesmo Sudário. Guardando sempre, como .o fiz em
tôda a extensão das pesquisas, uma honesta dúvida cartesiana,
concebe-se, pouco a pouco, mais confiança no documento submetido
a exame.
Por fim, quando já se verificou que tôdas as imagens - inclusive
e sobretudo aquelas que são, à primeira vista, exquisita.s
e contrárias à iconografia tradicional - estão conformes à verdade
experimental, então, éste conjunto de provas parciais acaba por
equivaler a uma prova absoluta. O cálculo das probabilidades nos
mostra que uma possibilidade infinitesimal de êrro vale uma
( 1 ) "I.e l(sior.l da traunú contusivi sul corpo di Cristo", I. e. "As Jeeõea
dl' traumatismos contusivoa sôbre o corpo de Crieto" ; m "Medicina Italiana",
vov€mbro de 1938.
certeza. Eis por que, anatômicamente falando, me persuadi da autenticidade
do Santo Sudário. Um falsário teria, em alguma parte,
cometido um deslize que o atraiçoaria. Nem muito menos ousaria
ir, com tão soberana desenvoltura, contra quase tôdas as tradições
artisticas.
A) GENERALIDADES
Como, muito bem, o diz Judica, os traumatismos produzem
na pele lesões muito diversas, cujos vestígios no Santo Sudário
düerem notàTelmente segundo SUa natureza e profundidade.
É necessário eliminar primeiro as contusões propriamente ditas
que não lesaram a continuidade da pele. Estas produzem equimoses
(manchas roxas), hematomas (acúmulos de sangue) sob a pele
e lesões viscerais profundas. Nenhuma destas lesões pode deixar
vestígios de si. a não ser que chegue a produzir alguma deformação
da superfície que lhe modifique a forma, como veremos ao estudar
wna destas lesões, no nariz. Para que o Sudário nos mostre
algo de extraordinário, é necessário que tenha havido rompimento
da pele, e, portanto, uma ferida sangrenta.
As irritações cutâneas, produzidas pelos golpes, dão origem,
por sua acumulação, a pequenas vesículas que se rompem espalhando,
em tôda a superfície do corpo, sua secreção séro-sanguinolenta,
que não deixaria vestígio na tela, mas que pode ter contribuído
para a formação das impressões corporais, muito melhor
do que a uréia do suor, segundo a hipótese de Vignon, que niio
deixa de ser, como já o vimos, problema ainda bem obscuro.
As escoriações destróem, em determinada superfície, tôda a
epiderme deixando a descoberto as papilas da derme, que sangram,
e destruindo mais ou menos o córion. É o que veremos nas
chagas da flagelação e nas escoriações de todo o corpo, especialmente
do rosto.
Por fim, as chagas contusas rompem a continuidade da pele
em tôda sua espessura e apresenta m bordos contundidos e sarjados.
Aparece êste tipo de chagas, sobretudo nos lugares em que a pele
cobre um plano de ossos resistentes.
B) SEVíCIAS DA NOITE E DO PRETóRIO
Mais de uma vez o leitor já teré percorrido o que narram o
quatro Evangelhos. Busquemos agora seus vestígios no Sudário.
Sôbre o rosto, encontram-se escoriações um pouco por tôda
a parte, mas sobretudo do lado direito, que está também deformado
como se, sob as esfoladuras sangrentas, houvesse também
h􀌑matomas. As duas arcadas superciliares apresentam aquelas chagas
contusas que tão bem conhecemos e que se fazem de dentro
para fora, sob a influência de um sôco ou paulada ; os ossos da
arcada cortam a pele pelo lado interno.
Mas a lesão mais evidente é uma grande escoriação de forma
triangular na região sub-orbitãria direita. A base tem dois centi-metros, a ponta se dirige para cima e para dentro para atingir
outra zona escoriada do nariz entre o têrço médio e o superior.
Neste nível o nariz está deformado por uma fratura da cartilagem
dorsal, bem perto de sua inserção no ôsso nasal. que ficou intacto.
O conjunto destas lesões bem parece ter sido produzido como diz
Judica, por um pau de 4 a 5 em de diâmetro, manejado vigorosamente
por um agressor colocado à direita de Jesus. Já vimos que
"rapisma" significa paulada. Outras escoriações podem ser vistas
também na face esquerda, na ponta do nariz e no lábio inferior.
Em todo o corpo se encontram inumeráveis. Haveremos de
assinalar as mais notáveis, por ocasião do estudo sôbre a flagelação
e transporte da cruz.

C) FLAGELAÇAO
Jâ conhecemos o instrumento de suplicio, o "flagrum" romano,
cujas correias levavam a alguma distância da ponta duas balas de
chumbo ou dois ossinhos, "talus" de carneiro. Seus vestfgios se encontram
com abundância no Sudário, e aparecem distrlbufdos por
todo o corpo, das espáduas até às pernas. A maioria está na parte
posterior, indício de que Jesus estava amarrado com o rosto contra
a coluna e as mãos amarradas no alto pois não ficaram vestígios
nos ante-braços, que de resto estão bem nítidos no Sudário. Não
teriam deixado de receber alguns golpes se estivessem amarrados
em baixo. Encontram-se também, e bem numerosos, sôbre o peito.
Convém acrescentar que só deixaram marca d􀄸 si os golpes que
produziram escoriação ou chaga contusa. Todos os que não provocaram
senão equimoses, não deixaram vestfgios na Mortalha. Contei-
os mais de 100, talvez 120 o que perfaz, se é que havia duas
correias, cêrca de 60 golpes, sem contar os que não deixaram marca.
Tôdas as chagas têm a mesma forma de minúsculo haltere
de 3 em. Os dois clrculos representam as balas de chumbo, a haste
inter-média é o vestígio da correia.
Estão quase tôdas dispostas em pares paralelos, o que faz
supor duas correias em cada .flagr􀄹. Estão claramente dispostas
em leque, tendo como centro a mão de um dos carrascos. São oblíquas
para cima, no torax ; horizontais, na altura dos rins; e oblíquas
para baixo, nos membros inferiores. Neste nível, vêm-se, na frente,
longas estrias oblíquas (como as chagas em halteres das costas)
que só podem ter sido produzidas pela extremidade das correias
dos açoites. Tendo batido com suas balas as barrigas das pernas,
contornaram o bordo externo das mesmas e sulcaram a face anterior
com suas pontas.
Acrescentemos ainda que Jesus estava inteiramente nu. Pois
vemos êste tipo de chagas, em forma de haltere, em tôda a região
pelviana, tão profundas como no resto do corpo, o que não teria
acontecido se estivesse coberta pelo "subligaculwn".
Por fim, notemos que os carrascos deviam ter sido dois e que
eram de estatura diferente, uma vez que a obllquidade dos golpes
nlo é a mesma dos dois lados.
Os pintores se contentam em geral de vagas esfoladuras informes.
Swá que já apareceu algum que tivesse podido imaginar
e realizar todos êstes detalhes tão minuciosos?

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