A Paixão de Cristo
Segundo o
cirurgião CAPÍTULO 18
CAUSA DETERMINANTE

Tudo o que acabamos de examinar, constitue, portanto, causa
de enfraquecimento e de dôr, que muito deve ter contribuído para
acelerar a agonia. Mas ainda não encontramos uma causa determinante
da morte, uma que, sem tergiversações, independentemente
das circunstâncias variáveis matasse sempre, cêdo ou tarde,
os crucificados. Esta causa, digamo-lo logo, era a asfixia. Os crucüicados
morriam todos asfixiados.
O trabalho do Dr. Le Bec, meu predecessor como cirurgião
no Hospital de S. José ( 2 ) já contém, sôbre êste fato, noções
precisas, exatas e completas. Para 'êle a fixação dos braços levantados,
portanto em posição de inspiração, acarreta relativa imobilidade
das costelas e grande incômodo na respiração ; o crucificado
tem a impressão de sufocamento progressivo. (Cada um poderá
verüicar por si mesmo, como esta posição prolongada, mesmo
sem tração alguma sôbre as mãos, a carreta uma dispnéia das
mais desagradáveis ) . O coração deverá trabalhar mais, suas pulsações
se precipitam e enfraquecem. Segue-se uma certa estagnação
nos vasos de todo o corpo. E "como, por outro lado, a oxigenação
se faz mal nos pulmões que funcionam insuficientemente, a
sobrecarga de ácido carbônico provnca excitação das fibras musculares
e, como conseqüência, uma espécie de estado tetânico ele
todo- o corpo.
Tudo isto é perfeitamente exato, fisiológica e logicamente deduzido.
Le Bec teve o imenso mérito, em 1 925, de conceber, ponto
por ponto, esta teoria que coincide com a realidade. Não podia
ob ter-lhe, felizmente para a França, uma prova experimental, mas
previa tudo o que as tristes observações de Hynek deveriam confirmar,
tudo o que êste já vira durante a guerra de 1914, mas que
só publicaria dez anos após o artigo de Le Bec.
E, com efeito, ao Dr. Hynek, de Praga, que devemos a triste
confirmação da tese de Le Bec, sendo esta a contribuição pessoal
e importante dêste autor para o estudo da Paixão; pois viu com
os próprios olhos aquilo de que o Dr. Le Bec teve a mais bela
intu:ção ( 3 ) .
Dois fatos colocaram o Dr. Hynek n o caminho desta explicação:
1 .0 - A observação dos êxtases de Teresa Neumann, que, quase
tôdas as sextas-feiras, revive e reproduz por imitação os sofrimentos
da Paixão de Jesus.
2.0 - A recordação de um suplicio, ou de grave punição
como se quiser chamar, em uso no exército austro-alemão para o
qual fôra recrutado como tcheco, na guerra de 1 914-18. :tste castigo
que se denomina "aufbinden", e que os nazistas tiveram cuidado
de não esquecer, consiste em suspender, pelas mãos, o condenado
a um pelourinho. Seus pés apenas tocam o solo com as
pontas dos dedos. Todo o pêso do corpo, e isto é importante, fica
apoiado nas duas mãos fixadas no alto. Vê-se, em pouco tempo,
surgir contrações violentas em todos os músculos, que terminam
em um estado permanente de contratura, de rigidez em contração
dêstes músculos. É o que se chama, vulgarmente, de caimbra.
Todos sabem o quanto são àolorosas e que não se pode aliviá-las
a não ser puxando o membro no sentido oposto ao dos músculos
contraídos.
Começam estas caimbras nos ante-braços, passam para os braços
estendendo-se aos membros inferiores e ao tronco. Muito ràpidamente
os grandes músculos que produzem a inspiração, grandes
peitorais, esternocleido-mastofdeos e diafragma são também tomados.
Daí resulta que os pulmões se enchem çle ar mas não conseguem
fazê-lo sair. Os músculos expiradores, também êles contraidos,
são mais fracos que os inspiradores (a expiração se faz ordinàriamente
e sem esfôrço muscular, pela elasticidade dos pulmões
e da caixa toráxica ) .
Estando assim o s pulmões em inspiração forçada e não podendo
se esvasiar, segue-se que a oxigenação normal do sangue
que nêles circula não mais se pode fazer e que a asfixia se apodera
do paciente da mesma forma como se fôsse estrangulado. Fica
no estado de um enfisematoso em plena crise de asma. Temos, a í,
o mesmo quadro que o provocado por uma eruermidade infecciosa,
Dr. R. W . Hynek, "Le mnrtyre du Christ", trad. francesa, 1937.
Edição tchec11 (original) de nov. de 1935. Há também uma traduçiio portuguêsa :
"A Paixão de Cristo", edit. Vozes de Petrópolis, 1949.
o tétano, pela intoxicação dos centros nervosos. É justamente por
isto que êste sindrome de contração generalizada, qualquer que
seja a causa determinante, e há outras, é chamado "tetania".
Notemos que, além disto, a falta de oxigenação do sangue
pulmonar acarreta, nos músculos, onde continua a circular, uma
asfixia local com conseqüente aci.Jmulação de ácido carbônico (segundo
a exata observação de Le Bec ) , que por uma espécie de
circulo vicioso, aumenta progressivamente a tetanização dêstes
mesmos músculos.
Vê-se, então, o paciente, com o peito distendido, apresentar
todos os sintomas da asfixia. O rosto fica vermelho e se torna
violáceo; abundante suor corre da face e de todo o corpo. Se
não se quiser fazer morrer o infeliz, é necessário soltá-lo. A simples
punição não podia, segundo testemunho de Hynek, durar
mais do que dez minutos. Mais tarde, nos campos de deportação
hitlerianos, prolongaram-na até o assassinato.
Podemos ainda citar o testemunho de dois antigos prisioneiros
de Dachau que, várias vêzes, presenciaram a aplicação do
suplício e dêle conservam terrificante lembrança. 1:ste testemunho
foi recolhido por Antoine Legrand; não pude ver_ pessoalmente
as testemunhas.
Suspendiam o condenado pelas duas mãos, quer uma ao lado
da outra, quer separadas. Os pés ficavam a certa distância do solo.
Em pouco tempo, o incômodo respiratório ficava intolerável.
O paciente procurava remediá-lo erguendo-se com os braços para
poder retomar fôlego ; conseguiam se manter no ar, até 30 e 60
segundos.
Prendiam-lhe, então, pesos aos pés para dificultar os soerguimentos.
A asfixia se desfechava então ràpidamente, em 3 ou 4
minutos. No último momento, tiravam-lhe os pesos, permitindo
de novo os soerguimentos para que, retomando fôlego, conseguissem
reviver.
A testemunha, que não era médico, não pôde averiguar se êstes
soerguimentos eram contrações voluntárias ou tetânicas. Em todo
o caso, sempre aliviavam a respiração.
Após uma hora de suspensão, tornavam-se estas contrações
cada vez mais freqüentes, mas também mais fracas e a asfixia se
estabelecia progressiva e definitivamente. A testemunha descreve
a caixa torácica intumecida ao máximo.. a cavidade epigástrica
muito profunda. As pernas rijas pendiam sem se agitar. A pele fiCé!Va
violeta. Abundante suor aparecia em todo o corpo, escorrendo até
o chão e manchando o cimento. Especialmente profuso era êste suor
nos poucos minutos que precediam a morte ; os cabelos e a barba
ficavam literalmente ensopados, mesmo em temperaturas próximas
ao zero. Deviam êsses agonizantes ter uma temperatura bem elevada.
Depois da morte ficava o corpo em extrema rigidez. A cabeça
caía para a frente, no eixc do corpo.
A morte sobrevinha, em média, ao cabo de 3 horas ; ou, um
pouco mais tarde, quando a:.; mãos ficavam separadas.
R.esulta dêste testemunho, como tambem da observação, graças
a Deus, menos prolongada de Hynek, que a suspensão pelas mãos
acarreta asfixia com contrações generalizadas, de acôrdo com a s
previsões de Le Bec. - O s crucificados, pois, morriam todos d e
asfixia, após longo período d e luta.
Assinalaremos, a êste propósito, as experiências muito interessantes
do Dr. Moedder, de Colônia, que, primeiro as publicou
no ·'Neues Illustrierte", de 9 de abril de 1 952, · sem que, no entanto,
tenha dito sua última palavra. Suspendeu pelas mãos, durante
alguns minutos, jovens indivíduos, sob o contrôle da radioscopia,
do eletro-cardiograma e da medida da tensão arterial. Verificou
muito ràpidamente um encolhimento transversal da sombra cardfaca,
queda da tensão arterial, alterações do eletro-cardiograma e, depois,
um colapso cardíaco por insuficiência coronária.
Como então podia o crucificado escapar momentâneamente a
estas caimbras e à asfixia, para sobreviver algumas horas, quiçá
2 ou 3 dias? Isto só se podia obter aliviando a tração exercida
sôbre as mãos, que parece ser a causa inicial e determinante de todo
o fenômeno.
Depois da crucifixão, o corpo se abaixava e descia notàvelmente,
como o veremos, ao mesmo tempo q!Je os joelhos se dobravam mais.
O paciente podia então tomar ponto de apôio nos pés fixados à
haste vertical da cruz, soerguer todo o corpo e reconduzir para a
horizontal os br<>.ços que, em virtude do abaixamento, tinham um
ângulo de 65° com a horizontal. Muito _reduzida, desta forma, a tração
sôbre as mãos, diminuíam as caimbras e, momentâneamente, desaparecia
a asfixia pela restituição dos movimentos respiratórios ... Depois,
sobrevindo a fadiga dos membros inferiores, era o crucificado obrigago
a ceder e a asfixia voltava de novo. Tôda a agonia se passava na
alternativa de abatimentos e soerguimentos, de asfixia e de respiração.
Disso temos a prova material no Santo Sudário, onde podemos
assinalar um duplo fluxo de sangue vertical que sai da chaga da
mão, com um afastamento angular de alguns graus. Um corresponde
à posição de abatimento e o outro à de soerguimento (Vêde
fig. 20, em baixo) .
Percebe-se logo que um indivíduo esgotado como estava Jesus,
não haveria de poder prolongar esta luta por muito tempo. Por
outro lado, quando julgasse, em sua suprema sabedoria, que chegara
o momento de morrer, que "tudo estava consumado", podê-lo-ia
fazer com a máxima facilidade, interrompendo a luta. Nem Lhe
traria dificuldade aquêle instinto vital que obriga, inconscientemente,
a lutar contra o afogamento o suicida que acabou de se lançar
à água, embora seriamente resolvido a se matar.
Circunstilncias especiais podiam facilitar a luta ou diminuir-lhe
a necessidade. Já vimos que os amarrados sobreviviam mais tempo
que os cravados, segundo o testemunho de Flávio José. Abdias, em
sua "Vida de S. André", declara que foi êste santo amarrado e
não pregado, "para que penasse por mais tempo". É possível que
um cabo enrolado fixamente aos pés constituísse um sólido ponto
de apóio e não escorregasse sôbre a haste vertical, em geral, mal
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aparelhada. O apôi'o sõbre cordas era, sem dúvida, menos doloroso
que o mesmo esfôrço sôbre as arestas de um cravo quadrado, de
8 mm, de lado, cravado entre os dois metatarsos. Podia então o
condenado ficar mais tempo soerguido, sem que o excesso de dôr
nos pés o trouxessse de novo ao abatimento. Também aqui, estava
Jesus nas condições as mais terríveis.
Finalmente, quando queriam prolongar o suplício, empregavam
o "sedile" (não .falo do supedâneo, desconhecido a todos os autores
antigos e que não passa de pura invenção dos artistas ) . f:ste pedaço
de pau ou ferro, sôbre o qual ficava montado o crucificado, devia
tornar-se ràpidamente, causa de atrozes dôres no perineo e coxas.
No entanto, a fôrça de tração exercida sôbre as mãos ficava muito
diminuída não restando quase que senão o incômodo respiratórlt.
t:om a dôr que lhe é peculiar, semelhante ao mesmo incômodo produzido
pelos braços estendidos no ar, sem tração. Apesar disto,
o corpo, ainda que assim sustentado, não podia ficar indefinidamente
na mesma posição, devia se inclinar para a frente e se abater. A
pressão sôbre as mãos aumentava e, com ela, sobrevinham as cairobras
e a asfixia. Apesar de tudo isto, o "sedile" devia, indubitàvelmente,
permitir considerável prolongação do suplício.
Em sentido contrário, dispunham os carrascos de meio seguro
para provocar morte quase instantânea nos crucificados: quebrarlhes
as pernas. f:ste processo, aliás rr:uito usado em Roma, era bem
conhecido. Encontramo-lo em Sêneca e em Amiano Marcelino (4 ) .
Orfgenes acrescenta que isto s e fazia "segundo os costumes romanos".
Era o "crurif1·agium". A palavra talvez tenha sido cunhada
por Plauto que faz dizer o escravo Sinerasto: "Continuo is me ex
Synerasto Crurifragium .fecerit .- Logo me fará mudar o nome de
inerasto em Pernas-Quebradas" ( 5 ) . Foi êste "crurifragium" que
os judeus, preocupados em fazer desaparecer os corpos antes do
pôr do sol, foram pedir a Pilatos: "Hina kateagõsin auton ta skele,
kai arthõsin - que se lhes quebrassem os ossos e os retirassem"
(João, 19, 3 1 ) .
Os exegetas . . . e os médicos têm divagado bastante sôbre as
causas de morte que acarretaria êste crurifrágio. Falou-se de inibição
do coração pela dôr. A dôr de uma fratura é muito grande, e
mesmo a denominam os franceses "dôr exquisita", o adjetivo parece
irônico, mas não é senão a tradução literal do adjetivo latino
"exquisitus"' i . e . "especial, escolhido, requintado". Esta dôr, que
pode aliás ser quase nula no momento, pode acarretar perda dos
sentidos, mas não uma síncope mortal, uma parada definitiva do
coração. É necessário procurarmos a causa alhures.
Outros, sobretudo médicos, falaram em embolia pulmonar gordurosa
pela passagem da gordura da medula dos ossos para os vasos
abertos no ôsso fraturado. Estas embolias gordurosas estiveram em
voga por muito tempo, pelo menos em teoria, porque em autópsias
não eram encontradas. Hoje em dia,. quase não mais se considera
tal ponto de vista que é encarado como coisa muito duvidosa. Não
pode isto ser a causa habitual da morte do crurifrágio.
Pelo contrário, o que hoje sabemos sôbre a tetania e a asfixia
dos crucificados, lança uma luz verdadeiramente esclarecedora sôbre
êste processo de acelerar a morte dos crucificados. Os supliciados
não podiam resistir à asfixia a não ser erguendo-se sôbre os pés.
Se lhes forem quebradas as pernas, ficarão absolutamente impossibilitados
de se erguerem. Então a asfixia os tomará completa e
definitivamente, e a morte sobrevirá em espaço muito curto, como
já vimos, mesmo para ·os que tinham o "sedile", a fratura das pernas
devia dificultar notàvelmente o soerguimento do corpo. Mas, quando
lhes metiam o "sedile" entre as coxas, era justamente para os fazer
sofrer mais tempo, não havendo portanto razão de lhes aplicarem
o crurifrágio.
Para Jesus, veremos, ao estudar as chagas das mãos (no cap. V ) ,
as razões anatômicas que m e levaram a afirmar sua suspensão simplesmente
por três cravos sem nenhum outro suporte.
Digamos logo, para não misturarmos êste estudo com o das
chagas, que esta asfixia está singularmente ilustrada pelos vestfg:
os que deixou no Santo Sudário. Ou, para falar com mais precisão,
a tetanização e a asfixia que são indubitáveis para um médico, prov<:u
u que as impressões do Sudário estão de acôrdo com a realidade:
êste corpo morreu como um corpo crucificado.
Ali vemos, com efeito, os dois grandes peitorais, os mais pode
rosos músculos inspiradores, em contração forçada, dilatados e <epuxados
em direção das clavículas e braços. Tôda a caixa toráxica
está muito distendida em inspiração máxima. A cavidade epigástrica
( vulgarmente conhecida como bôca do estômago) está retraída
por esta elevação e distensão para a frente e para fora do torax,
e não pela contração do diafrágma, como escreve Bynek. O diafrágma,
tarnbém êlc, grande músculo inspirador tenderia a soerguer
o epigastrCJ, em uma inspiração abdominal normal. Com esta distensão
e elevação forçada das costelas, não pode deixar de recalcar
a massa abdominal; é por isto que se vê por cima das mãos cruzadas,
sobressair o hipogástrio, o baixo ventre.
Quase não se vêm os esterno-cleido-mastofdeos, outros músculos
inspiradores, escondidos como estão sob a barba; mas a cabeça está
nitidamente fixada em inclinação anterior, como de fato devia estar.
Os longos fluxos de sangue, que descem dos carpos aos coto
velos, parecem seguir os sulcos bem marcados que separam os músculos
extensores das mãos, em ante-braços contraídos. As coxas
mostram fortes saliências musculares que, em um corpo aliás perfeitamente
desenhado, evocam também a contração tetânica.
Na face posterior, a coluna cervical parece bastante inclinada
para a frente, contrariando sua curvatura normal, o que quadra
com a imagem anterior. Por outro lado, a região lombar que deveria
apresentar uma curva em concavidade posterior, a lordose lombar,
aparece achatada com saliência das apófises espinhosas, como
muito bem observou o Dr. Gedda. De onde deduziu que o corpo estava menos rígido do que ordinàriamente se pensa, no que não
concordo inteiramente com êle.
A saliência bem nítida dos joelhos, sobretudo o esquerdo, mostra
urna flexão persistente, incompatível com tal relaxamento. Esta
flexão dos joelhos acarreta sempre certo achatamento da lordose
lombar, e é o caso na cruz. - Por outro lado estamos habituados
a considerar a contração do tétano ( enfermidade ) como terminando
sempre com a curvatura para trás de todo o corpo, que fica semelhante
a uma ponte, dos calcanhares à nuca, é o que se chama
"opistótono", que é na verdade, o caso mais freqüente da infecção
tetânica. Mas vê-se também e com bastante freqüência o contrário,
a incurvação para a frente, o "emprostótono". Quanto à crucifixão,
não dispomos agora de experiência alguma para verificar o que se
passa. Mas parece bem normal que, dado o abatimento do corpo,
a fadiga da cabeça que cai para a frente, a flexão dos quadris e '
joelhos, o corpo tem uma tendência natural a se contrair em incurvação
anterior, em emprostótono.
Dêsse momento em diante, deve se operar uma atitude que
está perfeitamente inscrita no Sudário: flexão da cabeça para a
frente, achatamento da concavidade da nuca e da lordose lombar,
aparecimento das apófises espinhosas lombares, saliências dos quadriceps
femorais e dos grandes glúteos que tanto trabalharam para
soerguer o corpo durante a agonia.
Eis, pois, a meu ver, claramente elucidadas, sob o ponto de
vista humano, científico (pobre ciência que não passa de uma ignorância
disfarçada! ) , as causas da morte de Jesus : 1 ) Causas predisponentes,
que são múltiplas e O levaram fisicamente diminuído,
e esgotado ao mais terrivel suplício que já conseguiu inventar a
malícia dos homens. 2 ) Uma causa determinante, final, imediata.
a asfixia, que causava infalivelmente a morte.
Ou antes, eis tôdas as circunstâncias mais ou menos nocivas,
no meio das quais morreu, por meio das quais quis morrer. Porque
assim como o predizia !saias (53, 7 J : "Oblatus est quia ipse
voluit - Foi oferecido (em sacrüício) porque êle próprio o quis".
Quando se relê a história evangélica com um ôlho clínico, cada
vez mais se fica impressionado pela maneira como domina 1:le
todos êstes acontecimentos. Aceitou plena a voluntàriamente tôdas
as conseqüências da natureza humana assumida por Seu consentimento
à vontade do Pai, inclusive tôdas as destruições que os
traumatismos podiam produzir em nosso pobre frangalho de carne.
Mas podemos ver também nessa leitura, claramente, a vontade
serena e a suprema dignidade ,com que dominou :lt:le tôda esta Paixão
prevista e, mais do que aceita, querida. Morreu porque o quis, morreu
quando o quis, no momento em que, com plena consciência, pôde
dizer a Si mesmo : "Tudo está terminado, minha tarefa está feita".
Morreu pelos meios que quis. Acabamos de ver como, mesmo na
realidade humana, isto Lhe era fácil.
Nêste corpo humano sofredor e agonizante, residia a divindade
que continuou no cadáver. E é por isto que a Face do Santo Sudário
é a única no mundo que nos mostra aquela serena, desconcertante
e adorável majestade.
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