A Paixão de Cristo
Segundo o cirurgião
Capítulo 13
Os cravos.
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Jesus teve os dois pés e as duas mãos cravados
sôbre a cruz. Temos - aqui não só a realização da profecia de
Davi: "Foderunt manus meas et pedes meos - perfuraram-me as
mãos e os pés". (Salmo 2 1 ) , mas está também de acõrdo com a
afirmação do próprio Salvador que disse aos apóstolos reunidos
no Cenáculo, por ocasião de sua primeira aparição: "Videte manus
meas et pedes meos, quia ego sum - vêde minhas mãos e meus
pés, sou eu mesmo". - Dois ou três textos patrísticos que não
falam dos cravos das mãos, nada são contra esta afirmação evangélica.
O único problema a resolver está no número dos cravos: três
ou quatro? Ou, em outras palavras: foram os pés pregados separadamente
ou um sôbre o outro, com o mesmo cravo? A arqueologia
romana parece absolutamente muda sôbre êste ponto. Os
autores eclesiásticos se dividem entre as duas opiniões, mas infelizmente

não apresentam os motivos de suas preferências.
S. Cipriano, S. Ambrósio, Gregório de Tours falam de 4 cravos.
Pelo contrário, Nonius, no século IV, fala em "pedibus positis
mutuo percomplicatis - com os pés cruzados". S. Gregório
Nazianzeno escreve: "Triclavi repositum ligno - colocado no
madeiro com três cravos". S. Boaventura : "Illi tres · clavi sustinent
totius corporis pondus - Aquêles três cravos sustentam todo o pêso
do corpo". O que, diga-se de passagem, supõe, no espírito de
S. Boaventura, a ausência do "sedile". S. Brígida, em suas revelações,
e Mons. Paleotto, arcebispo de Bolonha, no século XVI,
complicam as coisas fazendo cruzar os pés, mas • admitindo um
cravo para cada um. Esta técnica foi executada por Giotto em
Arena, mas é bem complicada. Veremos que a solução anatõmi<!a
é infinitamente mais simples e melhor estabelecida.
Pode ser que se trate de questão de estética, uma vez que
a tradição oral, para quem se poderia apelar, não chega a uma
solução univoca. Será pois interessante estudar a evolução do
crucifixo neste particular. Mereceria isto longos estudos, mas poderemos

esquematizar, grosso modo, da seguinte maneira :
As primeiras representações de Jesus crucificado néo O re­
presentam como um supliciado. Jesus é apresentado de pé, em
atitude majestosa, diante da cruz, sõbre a qual abre os braços
horizontalmente. Nas mãos aparece a cabeça de um prego, mas
os pés não estão cravados (cf. o da porta de S. Sabina em Roma) .
.No marfim do British Museum, Jesus está elevado sôbre a cruz,
com os braços abertos e as mãos pregadas, mas os pés pendem
verticalmente e não estão fixos. No Evangeliário de Rábula temos a
mesma disposição, mas a's pernas estão pregadas à haste vertical,
um pouco acima dos tornozelos e separadamente; os pés pendem

livre e obliquamente.
Esta posição levou, mais tarde, os artistas a imaginar, por
conta própria, o "suppedaneum" que colocam primeiro horizontalmente
sob os pés que ficam pregados um ao lado do outro, em
cima dêle; assim em S. Lucas em Fócida (Grécia) . Mas os pés
horizontais são inestéticos e mui ràpidamente, o supedâneo tomou
a forma de uma consola oblíqua que se conservaria até nossos
dias ; retomarão assim os pés uma posição oblíqua, muito mais
natural. É o que se vê, de início, entre os Bizantinos, em Dafné,
Aquiléia, etc. Depois, entre os pintores e escultores da Idade Média.
Isto não impede, no entanto, que encontremos muitas vêzes,
os pés pregados diretamente nos "stipes". Esta supressão do supedâneo

é sobretudo freqüente na França, nos séculos XIV e XV.
Aliás o supedâneo oblíquo acarreta outra modificação: o cruzamento
dos pés. Após a representação dos membros inferiores em
posição vertical, vê-se que os ondulam lateralmente na altura dos
joelhos, para levar os pés à vertical e os pregar paralelamente
sóbre a consola. Mas, bem depressa, os joelhos passaram a se dobrar
no eixo do corpo e os pés se cruzam um diante do outro
sõbre o suporte. Já se encontra tal representação em 1270, em
"Santa Maria in Vescovio". Est􀃪 posição quase não parece ser
conhecida na Itália, antes do século XV ; mas já é encontrada, na
França, nas esculturas do século XII. Daí por diante, encontramos
ainda de tempos em tempos, pés paralelos com dois cravos, mas
a regra geral é, cada vez mais, cruzar os pés. Quase sempre, a
isso voltaremos (no cápitulo VI), o pé esquerdo está atrás do

direito, contràriamente ao que se vê J;J.O Mortalha.
Segue-se de tudo isto, que a escolha dos artistas entre 3 ou
4 cravos era conseqüência única e exclusiva de razões estéticas e
que o cuidado da forma os conduziu progressivamente à verdade
histórica. Nada mais resta a fazer aos artistas atuais senão suprimir
de vez o . supedâneo imaginário, para se adaptarem completamente

à realidade, como seus predecessores do século XVI.

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