A Paixão de Cristo
Segundo o cirurgião
CAPITULO 3
O SANTO SUDARIO E OS PAPAS

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Vimos a atitude ambígua e manifestamente política do antipapa
Clemente VII. O hipercrítico historiador Ulisses Chevalier,
que parece ligar tão grande importância à opm1ao vacilante
de Clemente VII, porque julga nela encontrar argumento
contra o Sudário, teria podido com tôda a imparcialidade, colocar
em paralelo a constante veneração dos papas legítimos posteriores.
Desde que a Mortalha foi para Chambéry, Paulo li erigiu em
colegiada com doze cônegos a igreja em que o duque Amedeu IX
a depositou. Sixto IV, em 1480, outorgou-lhe o título de Santa
Capela. Júlio 11, em 1 506, concedeu-lhe missa e ofícios próprios
para sua festa fixada em 4 de maio. Leão X estendeu esta festa
a tôda a Saboia, e Gregório XIII ao Piemonte, com concessão de
indulgência plenária aos peregrinos.
Atestam todos em documentos solenes que essa Mortalha é
certamente aquela com que Jesus foi colocado no túmulo. Acrescentam
todos que as :relíquias da Humanidade do Salvador nela
contidas, i. e. Seu precioso Sangue, merecem e exigem veneração
e adoração, exatamente aquê1e culto de latria, contra o qual se
insurgiam violentamente os dois bispos de Troyes com aprovação
do anti-papa Clemente VII. Esta atitude dos papas posteriores
cresce muito de importância se considerarmos que muitas das decisões
tomadas pelos antipapas de Avignon foram ratificadas depois
do cisma, por seus sucessores romanos, legítimos.
Seria necessário citá-los quase todos para enumerar os testemunhos
de veneração prodigalizados por êles, as indulgências
concedidas ou confirmadas por sua causa. Pio VII se prostrou solenemente
diante dêle, em 1814, ao voltar triunfalmente para seus
estados. Leão XIII manifestou sua alegria e emoção ao ver a primeira
fotografia do Sudário em 1898.
E assim chegamos, para não falar de nosso estimado Papa
atual antes que êle próprio não o tenha feito, a S. Santidade
Pio XI de veneranda memória. Aquêles que com êle trataram de
perto, e eu tive esta honra, sabem que rigorosa e exigente precisão
científica tinha êle em um espírito admiràvelmente lúcido;
só com boas razões solidamente estribadas em fatos é que se contentava.
Vira a exposição de 1898 e se recordava da maciez do
(8) N. do Tradutor: Em vez de "ir:exato", seria preferível dizer-se '"discutido",
pofis há bom niÍmero de exegetas, 'aliás de gr.ande autoridade, que admitean
a morte de Jesll6 no ano 33.
tecido, delicadeza das sombras, ausência do menor resíduo colorante
e impecabilidade da anatomia daquêle corpo ali retratado.
Mas vivera muito tempo na Biblioteca Ambrosiana, onde impe
·rava o espírito dos Bolandistas, notáveis campeões no extermínio
de lendas e falsas relíquias. Estava bem adestrado nesta disciplina,
às vêzes um tanto cruel. Ora, a partir de 1931, teve consigo
e estudou as fotografias de .. Enrie que conservava a seu alocance
de acôrdo com seu costume. Leu tudo o que apareceu sôbre a
questão, em particular meu opúsculo "Cinq Plaies" (soube-o de
fonte muito segura que por dupla amizade me unia a êle). E o
fêz, .como sempre, de lapis em punho tomando notas. Chegou
mesmo a me dar a honra de querer minha visita. Examinou o
problema sob todos seus aspectos como o sabia fazer, conscienciosamente,
cientificamente, lentamente. Não ignorava de forma alguma
as düiculdades históricas, era sua especialidade; e, além
disto, tinha à disposição os arquivos do Vaticano dos quais era o
senhor, como os Papas do século XVI tiveram à sua disposição
os de Avignon.
Mas, como escreveu o Padre d' Arma ilha c, "a Providência
decidira que fôsse o mais autorizado dentre os Papas, o menos
suspeito de piedade ingênua, o melhor documentado que pronunciasse
a sentença". Esta sentença, entendamo-nos bem, nada tem
de dogmático, de infalível. Trata-se de simples opinião pessoal de
ordem cientüica, mas que se reveste de valor especial pela eminente
personalidade do homem unida à dignidade do Pontüice.
Após cinco anos de trabalho e meditação, sua opinião estava
formada e, segundo seu hábito, aproveitou a primeira oportunidade
para manifestá-la publicamente: costumava em suas alocuções enveredar
por um digressão às vêzes imprevista, até chegar ao
assunto que então lhe ocupava a mente. A 5 de setembro de
1 936, recebeu a peregrinação de jovens da Ação Católica que voltava
do Santuário de Nossa Senhora de Pompéia. Distribuiu-lhes
como lembranças imagens do Santo Sudário e lhes disse, depois
de lhes ter falado sôbre a Santíssima Virgem: " . .. estas são imagens
de seu Divino Filho e por isto. pode-se dizer, as 􀍘ais sugestivas,
as mais belas e as mais queridas que se possam imaginar.
Vem precisamente daquela cousa ainda misteriosa, mas feita não
por mão de homem, o que já se pode admitir como demonstrado,
que é o S anto Sudário de Turim (ina certamente non di fattura
umana; questo già si puó dire dimostrato). Dissemos, prossegue
êle, misteriosa porque boa dose dé mistério ainda envolve êste
objeto sagrado; mas é, sem dúvida, cousa sagrada cemo talvez nenhuma
outra; e seguramente (pode-se agora reconhecer como averiguado
da maneira mais positiva, mesmo fazendo abstração de
tôda idéia de fé e de piedade cristã) não é isto certamente obra
humana (certo non é opera umana!', cf. Osservatore Romano, 7-3
set. 1936) .
Conservaria esta opinião até à morte. Formulou-a em têrmos
semelhantes, a 23 de setembro do mesmo ano, aos colaboradores
da ••vie Spirituelle". Pouco tempo antes de seu falecimento, aos
3 de fevereiro de 1939, naquela audiência solene em que ceie-
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brava tantos aniversarws, para êle, preciosissimos, distribuiu ainàa
imagens da Santa Face tiradas do Santo Sudário.
É que o historiador erudito, o homem de ciência não só contemplou
as impressões do Sudário, mas quis também estudá-las.
Certamente, S. Santidade não teria referendado esta frase que me
dilacera o coração, é ela do bom Padre Jerphanion, cujo esplêndido
trabalho sôbre as igrejas da Capadócia li com paixão:
"Deliberadamente evitámos nos deter (o grifo é nosso) sôbre tôda
uma serie de arrazoados pelos quais .se nos mostra como, no Sudário,
impressões e traços de tôdas as espécies correspondem às menores
circunstâncias da Paixão e do Sepultamento de Cristo". Tal
ceticismo apriorístico é cientificamente injustificável e não pode
ser senão esterilizante.
É a posição precisamente oposta que me parece ser verdadeiramente
digna de um sábio, seja qu;d fôr sua especialidade. As relíquias
não provam sua autenticidade a não ser por documentos, atestados
solenes, denominados "autênticas", que se acompanham. Sem
tais documentos, não têm elas valor algum real. Gostaria de saber
quantas destas relíquias têm autênticas que remontem até suas origens.
Precisamente ao contrário, há no mundo, uma só que conservaria
todo seu valor ainda que não. tivesse base alguma histórica
porque as provas de sua autenticidade são intrínsecas. É dentro de
si mesma que estão suas "autênticas". Esta relíquia é o Santo
Sudário. Detenhamo-nos pois sôbre as impressões e vestígios que
encerra.
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